Governo colombiano procura policiais que podem estar em montanhas onde atuam as Farc

28/01/2013 - 21h55

Leandra Felipe
Correspondente da EBC

Bogotá (Colômbia) - O Ministério da Defesa Nacional colombiano intensificou as operações militares para encontrar dois policiais que teriam sido sequestrados na última sexta-feira ( 25), no departamento do Valle de Cauca, que fica no Sudoeste do país. O governo atribui o sequestro às Forças Revolucionárias da Colômbia (Farc), que ainda não se pronunciaram sobre o fato.

Segundo as Forças Armadas, os oficiais Cristian Camilo Yate e Víctor González foram levados para uma zona alta da cordilheira ocidental do país, onde atua a coluna Gabriel Galvis, da sexta frente das Farc.

Em entrevista na manhã desta segunda-feira (28), o comandante da Polícia do departamento de Cauca, Nelson Ramírez, disse que a inteligência policial tem informações de que os policiais estão vivos, mas não notícias sobre as condições físicas dos agentes. “Não sabemos se eles foram feridos, mas pedimos que as Farc respeitem a vida desses oficiais. E já colocamos um grupo especial de busca em alta montanha para encontrá-los”, disse.

Ao encerrar sua participação na reunião da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), em Santiago, no Chile, o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, também condenou o sequestro e disse que a pressão militar sobre a guerrilha aumentará. “Desde quando as Farc terminaram a trégua unilateral, eles retomaram os ataques terroristas. Isso já estava previsto, porque eles não têm a capacidade militar de fazer algo diferente disso ou de privar a liberdade de civis ou oficiais”, comentou Santos.

As Farc mantiveram uma trégua unilateral de novembro do ano passado até o dia 20 de janeiro. O ato foi anunciado como um gesto da guerrilha em favor das negociações de paz que se desenrolam em Havana, capital cubana.

Durante a reunião da Celac, a União Europeia manifestou apoio ao processo de paz, depois de quase um ano de conversas preliminares entre o governo e a guerrilha para iniciar o processo de entendimento para uma trégua nas ações das Farc.

O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, disse estar convencido de que a paz na Colômbia terá como frutos mais estabilidade e prosperidade para toda a região.

Do mesmo modo, a Colômbia recebeu respaldo do primeiro-ministro francês, Jean-Marc Ayrault, que, depois de reunir-se com Santos, anunciou que a França “apoia a política do governo colombiano para o tema da paz”.  Países vizinhos também apoiam uma solução pacífica do conflito. O presidente da Bolívia, Evo Morales, disse que a “revolução não se faz com balas” e reconheceu o esforço do presidente colombiano para acabar com o conflito de quase meio século. O processo de paz vem sendo acompanhado por observadores da Venezuela e do Chile.

Apesar do apoio internacional, o governo colombiano tem evitado o tom otimista quanto ao resultado das negociações de paz. Atualmente, a mesa negociadora discute a reforma agrária, tema considerado a raiz do conflito colombiano.

O chefe da delegação negociadora do governo em Cuba, Humberto de la Calle, mantém o tom discreto sobre o processo de paz. Na semana passada, depois de finalizar mais uma agenda de reuniões com os negociadores das Farc, de la Calle afirmou que o clima na mesa negociadora é de diálogo, respeito mútuo e cautela. “Queremos a paz, mas não a qualquer custo, não ao preço de que, como fruto das negociações, a guerrilha se fortaleça para seguir em guerra.”

Alguns analistas independentes são cautelosos e menos otimistas. O diretor do Centro de Recursos para a Análise do Conflito (Cerac), professor Jorge Restrepo, disse à Agência Brasil estar pessimista neste momento das negociações. “Já sabemos que ainda não há acordo na mesa. As reuniões seguem, mas, apesar do apregoado respeito, não há acordo fechado sobre a reforma agrária, que é um tema sensível”, analisa.

Segundo Restrepo, os ataques contra comunidades civis e sequestros podem influir negativamente no processo e minar a confiança da opinião pública. “Esse sequestro, se for muito demorado ou se tiver desfecho negativo para os policiais, aumentará a desconfiança da sociedade no processo. Espero que os efeitos sejam minimizados por uma libertação rápida dos policiais retidos”, avaliou Restrepo.

Edição: Lana Cristina