Pesquisa do Ipea mostra divergência de expectativas entre governo e setor produtivo

19/03/2012 - 19h10

Bruno Bocchini
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Pesquisa divulgada hoje (19) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que as expectativas econômicas do setor produtivo para este ano não estão convergindo para as estimativas do governo, em geral, mais otimistas. O levantamento Sensor Econômico, feito com 44 entidades ligadas ao setor produtivo, apontou expectativa de crescimento de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012, com inflação anual de 5,3% e dólar em R$ 1,75. O governo estima elevação de 4,5% no PIB, câmbio de R$ 1,80 e inflação dentro da banda de variação de dois pontos percentuais sobre o centro da meta estabelecida pelo Banco Central, de 4,5%.

“Aparentemente, o que nós podemos ler daqui, desse conjunto de informações, é que as medidas tomadas pelo governo não foram suficientes para que houvesse uma mudança nas expectativas do setor produtivo para que elas se aproximassem, digamos, do quadro mais otimista que o governo oferece”, disse o presidente do Ipea, Marcio Pochman.

De acordo com ele, o comportamento do PIB em 2011 também colaborou com a divergência de expectativas entre setor produtivo e governo. “Não temos uma convergência de expectativas porque há informações desencontradas. No ano passado, o PIB ficou bem aquém das estimativas, em geral, que faziam tanto o próprio governo quanto instituições de pesquisa, consultorias e, até mesmo, setor produtivo”, ressaltou.

O setor produtivo trabalhava com crescimento do PIB de 3,6% para 2011, e o governo, no final de setembro, previa crescimento de 3,5%. Mas o PIB evoluiu, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 2,7%.

Para a taxa básica de juros (Selic), os agentes do setor produtivo preveem que há espaço para, ao menos, mais um corte do Banco Central. Atualmente em 9,75% ao ano, a expectativa dos entrevistados é que a Selic feche 2012 em 9,5% ao ano. Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o Banco Central aponta para um piso de 9% ao ano.

“O levantamento indica uma dissintonia do ponto de vista das expectativas. No nosso modo de ver, esse tipo de informação ajuda o governo a reavaliar as decisões que estão sendo tomadas. Portanto, as medidas que estão sendo tomadas têm de ser mais fortes, com o objetivo de fazer com que as expectativas do setor produtivo se voltem - e convirjam - justamente para um crescimento maior”, destacou Pochman.

Apenas a expectativa em relação às exportações em 2012 casa com a do governo: US$ 264 bilhões.

Edição: Vinicius Doria