Defensoria diz que diminuiu truculência em ação policial para acabar com cracolândia no centro de São Paulo

19/01/2012 - 20h34

Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Na avaliação da Defensoria Pública de São Paulo, diminuiu a truculência policial na operação que é feita desde início do mês na cracolândia, perto da Estação da Luz, no centro da cidade. Na primeira semana de atuação ostensiva da Polícia Militar (PM) e Guarda Civil Metropolitana (GCM), o órgão chegou a coletar 32 denúncias de abuso.

A situação, no entanto, mudou, segundo defensor Pedro Giberti, que visitou hoje (19) o local onde pessoas consumiam e traficavam o crack. “As abordagens passaram a ser feitas de outro jeito, os conflitos diminuíram drasticamente e nós não recebemos mais as denúncias que recebíamos no começo da nossa presença aqui”, disse à Agência Brasil.

Giberti atribui a mudança de comportamento à pressão exercida pela defensoria e outras entidades contra a violência policial. “A percepção de que essas pessoas não estão mais desprotegidas, desassistidas, que nós estamos aqui, está servindo, se não de estímulo, mas pelo menos de alerta para que elas passem a ser respeitadas nos seus direitos”, declarou.

De acordo com a prefeitura, desde o começo da operação, 140 pessoas foram presas, capturados 43 condenados pela Justiça, 99 dependentes químicos internados e 3,6 quilos de crack apreendidos. Também foram retiradas 128 toneladas de lixo e 2,1 mil toneladas de entulho, resultado da demolição de seis imóveis.

A reportagem da Agência Brasil acompanhou o trabalho dos 250 funcionários que limpavam a área onde os imóveis foram derrubados. Segundo a prefeitura, as edificações estavam com a estrutura comprometida. Durante a tarde, enquanto era feito esse trabalho de demolição e limpeza, não foi visto no local qualquer traficante ou pessoa fazendo uso da droga, apenas alguns usuários que dormiam nas calçadas.

Perto posto móvel da Defensoria Pública, uma missão religiosa, chamada de Cristolândia, oferece diariamente refeições, banho e corte de cabelo para cerca de 150 pessoas, entre moradores de rua e dependentes químicos. A missionária Elaine Machado disse que, com a operação policial, aumentou o número de dependentes que procura ajuda.

“Depois dessa operação o nosso trabalho aumentou, porque as pessoas começaram a ver a Cristolândia como um refúgio”, disse. “Somos totalmente contra qualquer tipo de agressão física, moral ou verbal, mas, por meio desse trabalho, pudemos ajudar um número muito maior de pessoas”, completou.

Entre as atendidas pela missão, está Sara Nunes. Grávida de cinco meses, ela é usuária de crack há 16 anos e reside e mora na cracolândia há seis meses. Sara Nunes declarou que sofreu com a forma como os policiais agiram para combater o tráfico e o consumo de drogas na região.

“No primeiro dia fui acordada com um chute na barriga”, diz a moça que admitiu ter fumado crack pela última vez na noite anterior à operação. Na opinião dela, o único objetivo da operação policial é expulsar os usuários de drogas do centro. “Sabe quando a dona de casa limpa a casa? É isso, estão limpando a casa, e nós somos o lixo”, ressaltou.

 

Edição: Aécio Amado