Ministra argentina reage à declaração de Pimentel e diz que comércio bilateral favorece o Brasil

19/01/2012 - 21h28

Monica Yanakiew
Correspondente da EBC na Argentina


Buenos Aires - O novo regime de importação argentino, que entra em vigor no próximo dia 1º de fevereiro, provocou um curto-circuito nas relações comerciais entre o Brasil e a Argentina - os dois maiores sócios do Mercosul, bloco econômico integrado também pelo Paraguai e Uruguai.

Hoje (19), a ministra da Indústria argentina, Débora Giorgi, disse que o Brasil está sendo favorecido pelo comércio bilateral e que a realidade "não justifica os comentários" do ministro brasileiro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel.

A ministra se referia à entrevista dada pelo colega brasileiro, ontem (18), nos Estados Unidos, e publicada hoje com destaque pela imprensa argentina, na qual admite que "a Argentina tem sido um problema permanente", no que diz respeito às relações econômicas.

Debora Giorgi reagiu lembrando que, em 2011, o Brasil registrou um superávit em sua balança comercial de US$ 30 bilhões e que a Argentina foi responsável por 19,5 por cento deste saldo favorável. No ano passado, acrescentou a ministra, as importações argentinas de produtos brasileiros aumentaram 23% em relação a 2010. Dos US$ 22,7 bilhões exportados pelo Brasil para a Argentina, 95% foram de produtos manufaturados.

As declarações dos dois ministros ocorrem após o anúncio do governo argentino sobre medidas relacionadas ao comércio entre os dois países. Na semana passada, os importadores locais foram informados de que, a partir de fevereiro, terão que apresentar uma declaração juramentada antecipada na Receita Federal argentina. E que os pedidos de importação serão examinados e autorizados pelo secretário do Comercio Interior, Guillermo Moreno, em um prazo de 15 dias.

Esta semana, o ministro do Planejamento, Julio De Vido, mandou investigar a Petrobras e e mais quatro companhias petrolíferas, acusadas por empresas de transporte publico e de cargas, de formação de cartel para aplicar sobrepreços ao óleo diesel.

A presidenta Cristina Kirchner, após ser reeleita com 54% dos votos, em outubro passado, tem adotado uma serie de medidas com um único objetivo: evitar que a Argentina tenha um problema de caixa. Desde 2003, quando os Kirchner chegaram ao poder, a economia do país tem crescido em media 7%, permitindo se recuperar da crise de 2001 - a mais séria de sua recente história. Até agora, no entanto, a Argentina não foi afetada pela crise nos Estados Unidos e na Europa. Mas 2012 promete ser um ano difícil.

"O crescimento econômico argentino não depende tanto dos Estados Unidos e da Europa, mas depende do Brasil e da China. E o crescimento desses dois países foi afetado pela crise mundial. É natural que a desaceleração das economias brasileira e chilena afetem a Argentina", disse a Agência Brasil, o economista Fausto Spotorno.

Sem acesso a crédito externo, desde que declarou a moratória da dívida externa em 2001, a Argentina depende das exportações para fazer caixa. Por isso o governo quer manter o saldo na balança comercial de US$ 10,5 bilhões, registrado em 2011. Mas analistas da área econômica acham difícil cumprir esta meta.

"A atividade econômica crescerá menos este ano, cerca de 3,5%. E as exportações devem crescer pouco. Já os gastos com a importação de energia deverão aumentar muito", declarou à Agencia Brasil o economista Marcelo Elisondo, diretor da consultora DNI. Só com a compra de gás e energia elétrica, segundo ele, o país deve gastar este ano US$ 7 bilhões. "O governo precisa limitar as importações para ter dinheiro para importar energia", disse.

Hoje, o governo argentino se reuniu com os importadores para explicar como funcionará o novo sistema. "Entendemos que o governo tenha anunciado o novo regime de importação com tanta pressa e sem muito tato. Teme que a seca afete a produção agrícola", disse à Agencia Brasil, Miguel Ponce, gerente de Relações Institucionais da Câmara de Importadores Argentinos (Cira).

"Se o sistema inaugurado for transparente e rápido, poderá representar uma melhora. Agora sabemos que a política de importação está nas mãos de Guillermo Moreno, e esperamos que este sistema seja mais eficiente que as licenças não automáticas (LNA). Pelas as normas da Organização Mundial do Comércio (OMC), produtos importados por este regime devem entrar no país em no máximo 60 dias. Mas o governo argentino mais de uma vez atrasou a liberação das importações”, lembrou.

Segundo o especialista em comércio exterior, Mauricio Claveri, por serem os dois principais sócios do Mercosul, o Brasil e a Argentina têm capacidade de negociar soluções políticas para seus problemas comerciais. "Em 2011 a Argentina estava em um ano eleitoral. Mas agora que Cristina foi reeleita para quatro anos e assegurou a maioria no Congresso, não acho que o governo brasileiro continuará sendo tão tolerante como antes", declarou Claveri.

 

Edição: Aécio Amado