Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil
Brasília - A interdição, na última sexta-feira (15), de uma loja e de um galpão pertencentes à uma empresa têxtil pernambucana reforçou as suspeitas de que lixo hospitalar norte-americano entrava no país e era utilizado na confecção de peças de roupas há anos.
Os dois estabelecimentos interditados pela Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa), com apoio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ficam nas cidades de Santa Cruz do Capibaribe e de Toritama e pertencem à empresa Na Intimidade, que funciona com o nome fantasia Império do Forro de Bolso.
Nos locais, os fiscais encontraram pedaços de tecido com manchas que, assim como o material apreendido na semana passada, no Porto de Suape, podem ser de sangue. Também foram encontrados forros de bolso prontos para a venda. Vários deles ainda continham a logomarca de hospitais norte-americanos.
Dados da Império do Forro disponíveis na internet indicam a Altair Moura como responsável e contato da empresa. De acordo com notícias publicadas por vários sites e jornais, o mesmo Moura já foi sócio de outra importadora de tecidos também instalada em Santa Cruz do Capibaribe, a Forrozão dos Retalhos. Antigos registros da Forrozão no site Brasil Web Trade - uma ferramenta de comércio eletrônico do Banco do Brasil – de fato apontam Moura como sendo o contato da companhia.
No cadastro de empresas importadoras disponível no site do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio consta que, entre os anos de 2001 e 2009, a Forrozão pôde comprar dos Estados Unidos até US$ 1 milhão anuais em mercadorias. Já a Na Intimidade começou a importar o mesmo valor em tecidos norte-americanos a partir de 2009.
Apesar de encontrar o material irregular na loja e no galpão pertencentes à Império do Forro, onde repórteres do jornal Folha de S.Paulo já haviam comprado cerca de quatro quilos de tecido com os nomes de hospitais norte-americanos, a Receita Federal e a Anvisa não confirmam se a empresa é responsável por importar as mais de 46 toneladas de lençóis, fronhas, toalhas de banho, batas, pijamas e roupas de bebês sujas de sangue retidas na semana passada, no Porto de Suape, em Pernambuco.
As autoridades investigam se o material guardado na loja e no galpão é parte da carga de outros seis contêineres que, segundo a Receita Federal, a importadora recebeu desde o início do ano e que não foram fiscalizados pela alfândega.
“Ainda não sabemos se os outros contêineres continham o mesmo material. O advogado da empresa [com quem o inspetor se reuniu pela manhã] alega que não, mas nós queremos saber o que foi feito de todo o material, se ele foi empregado na produção ou descartado”, disse o inspetor-chefe da Alfândega da Receita Federal no Porto de Suape, Carlos Eduardo da Costa Oliveira, à Agência Brasil, na última sexta-feira.
A Agência Brasil telefonou para os números de contato das duas companhias e de Moura, mas ninguém atendeu.
Edição: Rivadavia Severo