Secretário nega problemas de manutenção com bonde acidentado

29/08/2011 - 21h52

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - O secretário estadual de Transportes, Júlio Lopes, negou hoje (29) que houvesse problemas com o bonde acidentado sábado (27), em Santa Teresa, bairro da região central da cidade, matando cinco pessoas e ferindo 50. De acordo com Lopes, o bonde passou por revisões recentes, quando foram trocadas as quatro sapatas de freio, entre outras peças. A última manutenção, segundo ele, ocorreu no dia 25 deste mês. “Jamais foi liberado um bonde sem que sua manutenção estivesse rigorosamente feita”, disse.

No entanto, o secretário soube explicar o motivo de o condutor do veículo, Nelson Silva, que morreu no acidente, ter tomado a decisão de manter o bonde em operação quando já o levava para a garagem, após colisão, mais cedo, com um ônibus. Segundo Lopes, o condutor recebeu, na Estação Carioca, a orientação de levar o bonde para a oficina. Ele subiu para Santa Teresa com o bonde vazio. Mas, por alguma razão, não chegou à garagem, conforme um relatório apresentado pelo secretário.

Perguntado se a responsabilidade pelo acidente seria do condutor, Júlio Lopes preferiu não fazer conjecturas precipitadas. “Não queremos fazer e não faremos qualquer conclusão precipitada, qualquer ilação”, mas admitiu que a superlotação pode ter contribuído para o acidente. Lembrou que um episódio semelhante ocorreu em 1974, provocado também por superlotação. “É um problema cultural com o qual a gente vem se debatendo há muito tempo”.

O chefe do Departamento de Manutenção da Companhia Estadual de Transporte e Logística (Central), que administra os bondes de Santa Teresa, Cláudio Lopes do Nascimento, disse que o condutor Nelson Silva era muito experiente e ressaltou que os condutores dos bondes têm independência de parar o veículo por qualquer razão e em qualquer local, se algum fato oferecer riscos. Mas revelou que Silva não havia sido autorizado a fazer a viagem de descida.

Segundo o secretário de Transportes, desde o início da atual administração, foram investidos no sistema de manutenção dos bondes de Santa Teresa R$ 14 milhões, sendo mais de R$ 350 mil somente este ano. “É uma orientação do governo”, disse. Acrescentou que “o fator fundamental na operação dos bondes, para nós, sempre foi a segurança”. O que ocorreu, sublinhou Lopes, “foi uma fatalidade”, e assegurou que toda a assistência está sendo prestada pelo governo fluminense às famílias das vítimas e aos feridos que permanecem internados.

O governo fluminense vai aguardar a perícia policial e pedirá um laudo técnico ao Conselho Regional de Arquitetura e Engenharia (Crea-RJ) para apurar as causas do acidente. Até lá, o serviço de bondes de Santa Teresa vai ficar parado. Amanhã (30), o secretário vai propor ao governador Sergio Cabral a realização de uma auditoria independente, feita por uma instituição acadêmica da área de pesquisa e engenharia ferroviária, para investigar o que realmente ocorreu.

O bonde de Santa Teresa completa 115 anos no próximo dia 1º de setembro. Na ocasião, a Associação dos Moradores do bairro promete fazer várias manifestações de luto pelo acidente e, também, de repúdio pelas condições negativas de transporte no bairro.

 

Edição: Aécio Amado