Ajuda segue lenta em cidade arrasada por tsunami no Chile

05/03/2010 - 22h28

Vladimir Platonow

Repórter da Agência Brasil

Dichato (Chile) – Os habitantes do povoado de Dichato, a 30 quilômetros da cidade de Concepción, a mais atingida pelo terremoto, andam de um lado para outro, com os filhos pelas mãos, naquela que já foi uma pequena cidade litorânea. Em meio à poeira, veem o que a força do mar fez com suas casas, após o tsunami do último sábado. Praticamente nada sobrou em pé na parte baixa do vilarejo, só se salvou a parte que fica nas colinas.

Pelas ruas, cenas insólitas se misturam aos escombros, como barcos de grande porte que foram lançados cinquenta metros terra adentro, repousando naquilo que já foi o jardim de uma casa. Todos reclamam da lentidão da ajuda oficial e culpam o governo pela tragédia, ao não dar o alerta de tsunami.

Na beira da estrada, famílias inteiras vivem em barracas e cozinham em fogueiras. “Perdemos nossa casa nova, que não tinha nem um ano. Lutamos toda uma vida e agora estamos nesta situação. Ninguém deu o alerta de tsunami”, reclamava Lilian Guiñez, enquanto lavava roupas, agachada junto a uma bacia.

“Quando sentimos o tremor, na madrugada de sábado, acordamos na mesma hora. Eu e minha esposa saímos de pijama, levando só as crianças até a parte alta da cidade. Não temos mais nada. Até a roupa que vestimos agora nos foi doada”, relatava o pescador Luis Navarro, que morava na beira do mar e viu quando a onda gigante se formava.

Segundo os moradores, foram três séries de ondas, sendo a última a maior, com cerca de 10 metros de altura. O mar entrou com força por dois lados do vilarejo, formando uma espécie de pororoca, que destruiu tudo o que encontrou pela frente.

“Nós perdemos toda nossa colheita de trigo, que estava secando em um galpão. Somos agricultores e agora não temos como viver”, desabafava Ines Reis, em frente dos escombros de sua casa. “Em nenhum momento deram o alerta de tsunami”, protestava.

Quem perdeu as casas foi levado para um acampamento, no alto da colina. Lá é organizada a distribuição de roupas e alimentos pelo Exército. Mas outros gêneros não chegam. “Já temos roupas o bastante, mas faltam sapatos, sabonete, pasta de dente e cloro”, disse Maria Ruiz.

Apesar de todo o sofrimento, alguns chilenos não perderam o bom humor. O jovem Felipe Vasquez, que conduzia uma carroça com dois colchões em cima, pediu para ser fotografado. Apontando para o cavalo, disse: “Este é o meu Mercedes-Benz. Ele vai me ajudar a reconstruir tudo o que perdi”. Vasquez e a esposa tiveram a casa levada pelo mar e agora vivem com a cunhada, na parte alta de Dichato.