Defesa Civil interdita quarteirão no centro do Rio e 300 pessoas ficam desalojadas

10/12/2009 - 16h07

Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Eram 4h30 da manhã, quando a produtora de eventos Luciana Franco e seus dois filhos foram acordados por bombeiros que informaram que o prédio onde moravam corria risco de desabar. “Acordei com a campainha tocando. Eu e meus filhos saímos com a roupa do corpo na mesma hora. Estou desesperada. Vou para casa de parentes, acho que não vou ter mais coragem de morar aqui, não”.Luciana e mais de 300 moradores tiveram que abandonar, no final da madrugada de hoje (10), os prédios de número 18 e 22 da Rua dos Inválidos, no centro do Rio de Janeiro. Os prédios estão com rachaduras.Um quarteirão inteiro da rua, entre a Visconde do Rio Branco e a Rua do Senado, está interditado e técnicos da Defesa Civil, bombeiros e policiais militares estão no local para avaliar as condições dos edifícios afetados.Além dos dois prédios residenciais, outros seis edifícios estão com fissuras nas paredes e no piso, entre eles a igreja Santo Antônio dos Pobres, construída em 1811. O padre da igreja, Sérgio Marcos, disse que as rachaduras apareceram há aproximadamente um ano, quando começou uma obra vizinha à igreja, da construtora Wtorre. O empreendimento, que ocupa um quarteirão inteiro, será alugado para a Petrobras e promete ser o maior edifício comercial da América Latina.“Os engenheiros da obra visitam a igreja frequentemente para acompanhar as rachaduras, mas nunca mencionaram qualquer possibilidade de risco de desabamento”, informou o padre.A Defesa Civil foi chamada às 3h30 da manhã, quando um morador acordou com barulho de sedimentos caindo da parede do edifício em que mora. Após a constatação de uma rachadura, de mais de dois centímetros nos fundos do prédio, a Defesa Civil decidiu evacuar a área.O advogado Jesus do Nascimento, que mora no local há mais de trinta anos, disse que há meses os moradores se queixam com a prefeitura do barulho e das trepidações causadas pela obra vizinha. “Eles usam britadeira até de madrugada. Isto aqui é uma área residencial, tombada, com edifícios muito antigos. Há meses, ligamos para o 190, mas nada foi feito. Esta obra nunca poderia ter sido aprovada”.A Petrobras informou, por meio de nota, que não tem nenhuma responsabilidade sobre as obras já que apenas irá alugar o edifício após sua conclusão. A WTorre S.A. também por nota declarou que não há provas que indiquem que a obra é responsável pelas rachaduras nos prédios, mas que a empresa já enviou engenheiros para auxiliarem os técnicos da Defesa Civil a apurar as causas da rachaduras.Após visitar a obra e alguns edifícios interditados, o engenheiro civil do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-RJ) Antonio Eulálio Pedrosa Araújo disse que há 90% de chances das rachaduras terem sido causadas pela obra. “Existe ali um buraco de quase 20 metros, o equivalente a cinco andares. Como o solo é muito ardiloso e fino, tudo indica que houve fuga de sedimento, causando o rebaixamento do solo e problemas estruturais nos prédios que têm fundação baixa”, explicou o engenheiro.O coordenador da Defesa Civil, Márcio Motta, disse que um lençol freático passa sob a rua e, além disso, a região sofre com constantes inundações quando chove, o que vem ocorrendo nos últimos dias. Por isso, segundo ele, ainda é cedo para se afirmar quais são as reais causas das rachaduras.A Defesa Civil permitiu que os moradores subissem um por um a suas casas para buscar, rapidamente, documentos e pertences leves. Alguns desalojados foram levados para abrigos da Assistência Social da Prefeitura, outros buscaram a casa de parentes. Muitos permanecem no local. Todos estão sem saber se poderão voltar ou não para suas casas.