Incra diz que pesquisa da CNA sobre produção em assentamentos não é confiável

13/10/2009 - 17h53

Marco Antonio Soalheiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Opresidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária(Incra), Rolf Hackbart, contestou, há pouco, a pesquisa divulgadapela Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil(CNA), segundo a qual 37% dos assentados brasileiros não produzemnada na sua propriedade. Os dados foram coletados pelo Ibope, masHackbart confrontou-os com os do Censo Agropecuário e prometeudivulgar, até o fim do ano, “dados confiáveis” sobre arealidade produtiva em assentamentos. “Quero reafirmar quea reforma agrária produz muitos alimentos. O censo agropecuário,que pesquisou todos os estabelecimentos do país, mostra que aagricultura familiar detém 24% da área total e produz 40% do valorbruto da produção agropecuária brasileira. Fico com o censo e nãocom o Ibope, que pesquisou mil famílias. Temos 1milhão de famílias assentadas no Brasil inteiro em 80 milhões dehectares. A amostra é insuficiente”, afirmou Hackbart, ementrevista coletiva. “O interessa da CNA é dizer que areforma agrária não é mais necessária. E nós sabemos que areforma é um caminho para desenvolver o país de forma sustentável”,acrescentou Hackbart. De posse de produtos expostos na última6ª Feira da Agricultura Familiar e da Reforma Agrária, Hackbartcitou alguns assentamentos que batem recordes de produção peloBrasil, mas ressalvou que esse tipo de dado não é o indicadoradequado para uma avaliação única de eficiência da reformaagrária. Numa analogia, Hackbart alegou ser impossível comparar umaVotorantim com uma empresa de fundo de quintal. “Nossagrande missão é reduzir a violência, promover a cidadania egarantir acesso a direitos básicos. Não dá para medir o sucesso dareforma agrária pela sua inserção no mercado com o que as famíliasproduzem. O grande objetivo é desconcentrar o uso e a propriedade daterra.  O principal é tirar as famílias das lonas, e a produçãoé um passo seguinte”, disse Hackbart.A pesquisa da CNAmostrou que a maioria dos assentados (37%) tem renda familiar de umsalário mínimo, 35%, entre um e dois salários mínimos e 26%, demais de dois salários mínimos. A conclusão é que 37% dosassentados têm renda individual de um quarto do salário mínimo.A fragilidade financeira dos assentados, na visão deHackbart, “reflete a realidade socioeconômica de cada região.”O presidente do Incra diz que o assentamento da família é oprimeiro passo para a conquista da cidadania, que só se tornaráefetiva com o reforço das políticas de saúde e educação nasáreas rurais pelo estados e prefeituras. “O processo [deconquista da cidadania]precisa ser encurtado . Temos de acelerar mais, mas não é fácil.Construção de escolas , de estradas. É difícil convencer umprefeito a construir uma escola no assentamento, porque ele vaipreferir fazer em um bairro na cidade” , argumentou Hackbart.Apesar da pesquisa CNA/Ibope dizer que 75% dos assentados nãotêm acesso ao programa de crédito rural do governo federal, o Incrasustenta ter pago, desde 2003, mais de R$ 4 bilhões de crédito paraos assentados.