Escolas do Semiárido enfrentam maiores dificuldades para formar crianças e jovens

09/06/2009 - 12h16

Luana Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Os maiores desafios na redução das desigualdades e melhoria dosindicadores sociais do país ainda estão no Semiárido, de acordo com oFundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). O relatório Situaçãoda Infância e da Adolescência Brasileira 2009 – O Direito de Aprender,divulgado hoje (9), aponta a região – que engloba os nove estados doNordeste mais partes de Minas Gerais e do Espírito Santo – como a que mais enfrenta dificuldades na formação educacional de crianças e jovens.Orelatório mostra que uma criança no Semiárido leva, em média, 11 anospara concluir o ensino fundamental de oito anos. Parte da dificuldadeestá inclusive na estrutura física das escolas, que muitas vezes nãotêm condições mínimas de atendimento e funcionam sem energia elétricae água potável. “Das 37,6 mil escolas na zona rural da região, 28,3 milnão são abastecidas pela rede pública [de abastecimento de água].Dessas, 387 não têm nenhum tipo de abastecimento”, cita o documento. Alémda infraestrutura, a educação no Semiárido ainda enfrenta outrosgargalos, como a falta de formação de professores e o grande número deturmas multisseriadas, com alunos de diferentes idades e em diferentesetapas de aprendizagem no mesmo grupo. Deacordo com o levantamento, o Semiárido concentra mais da metade dapopulação de analfabetos acima de 15 anos, registra índices deescolarização e frequência muito menores que a média nacional e aindaapresenta altos percentuais de evasão escolar. O Unicef creditaa falta de oportunidade que afeta os cerca de 13 milhões de brasileirosque vivem na região a fatores históricos e ao modelo de ocupação daárea. “A região sempre foi vista como um pedaço pobre do país e nãorecebeu investimentos concretos num projeto de desenvolvimento quegarantisse sua inclusão ao plano de desenvolvimento nacional.” Apesar do rol deindicadores negativos, algumas mudanças começam a sinalizar umapossível transformação na região. O índice universalização do EnsinoFundamental no Semiárido está bem próximo da média nacional e a entradana Educação Básica também tem tido resultados positivos. “A média deatendimento de crianças de 4 e 5 anos nos municípios da região é de47,3%, ante 42,8% na média nacional”, destaca o Unicef. Aorganização defende a integração entre educação e realidade social comouma das estratégias para mudar o quadro de desigualdades da região. Ocaminho para o que o Unicef chama de “educação contextualizada” passapelo livro didático, que deve ser adaptado à “necessidade de materiaisque valorizem e reflitam a realidade dos alunos, nos quais eles sereconheçam”.De acordo com o relatório, atualmente o currículoescolar “reproduz um discurso e uma prática que apresentam o Semiáridocomo inviável, um lugar pobre, miserável e ruim de viver”. Nodocumento, o Unicef cita a inciativa da Resab, que em 2005 desenvolveuum material específico para o Semiárido e que obteve resultadospositivos com estudantes de 17 municípios em nove estados. Aorganização também cita o Pacto Um Mundo para a Criança e o Adolescentedo Semiárido, assinado por 11 ministérios e mais 30 organizações nãogovernamentais como uma estratégia para reverter as desigualdades e quejá tem apresentado resultados positivos na área educacional. Segundo oUnicef, entre 2004 e 2007 a distorção idade-série caiu de 41,7% para17,4% nos municípios do Semiárido que aderiram ao pacto.