Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A Polícia Civil do Riode Janeiro espera prender nesse ano o triplo de pessoas envolvidas commilícias, em relação ao número de pessoas presas no anopassado. De acordo com o chefe da corporação, Alan Turnowski, aarma para isso é a chamada “polícia sem rosto”, ou seja, umrodízio de policiais que atuam nas investigações e nas prisõesdos criminosos.“A vantagem dessetipo de trabalho é que os policiais só trabalham em uma únicamissão, em uma única investigação. Ao fim dessa investigação, aoperação de prender as pessoas não é feita por quem investigou.Dessa forma, eu não dou rosto à missão. Se um policial trabalhouem uma missão, ele não vai trabalhar na segunda e na terceira.Assim, esse policial não precisa temer retaliações”, destacouTurnowski.A prática, de acordocom o chefe da Polícia Civil, vem surtindo efeito. Ele ressaltouque em 2006, cinco milicianos foram presos. Já em 2007, esse númerosubiu para 21. Em 2008, a polícia do Rio prendeu 78milicianos e, só neste ano, até o final de maio, já haviadetido 76 milicianos, sem contar com as 41 pessoas presas hoje pela Operação Temis, que envolveu policiais militares e civis.“A tendência desseano é predermos o triplo de milicianos que prendemos no ano passado.Com essa consciência coletiva de combate às milícias temos váriasoperações em andamento, diversas operações de prisões e diversasoperações que vão muito além da prisão”, destacou Turnowski,em audiência realizada na Comissão de Direitos Humanos do Senado.De acordo comTurnowski, a prática da "polícia sem rosto" foi inspirada nasoperações realizadas pela Polícia Federal e hoje, no Rio deJaneiro, vem sendo adotada também pelo Ministério Público e peloJudiciário. “Adotando a estratégia da Polícia Federal, de políciasem rosto, reunimos dez delegados e pedimos a cada um que indicasseapenas um de seus melhores policiais. Levamos esses policiais para umescritório e eles trabalharam em conjunto com outros delegados. Nahora de realizar as operações, outros policiais é que foramutilizados. O Ministério Público também percebeu a necessidade decriar um grupo maior para que as investigações não ficassem emcima de uma pessoa só, de um só promotor. O Tribunal de Justiçatambém percebeu isso e criou o seu próprio grupo”, destacouTurnowski.O chefe da PolíciaCivil defendeu ainda que o combate às milícias não pode ser feitoapenas com o aparato das polícias e destaca que há uma vontadepolítica do atual governo para enfrentar o problema. “O combate àsmilícias extrapola o poder da polícia porque as milícias entraramem uma terceira etapa em sua formação que foi a entrada depolíticos nas organizações. Essa terceira etapa fez com que aquestão de milícia viesse à tona. Para combatermos esse tipo demilícia nós teríamos que ir para um patamar político, ou seja,nós precisamos não só de polícia mas do envolvimento de todos ossegmentos da sociedade. Nós tivemos um momento muito difícil quandose misturava política e segurança pública. Hoje já não é bemassim”, destacou.Além de prender, eletambém ressaltou que é necessário que o Estado se faça presenteimediatamente nas áreas dominadas, para evitar que outras facções,tanto de milícias quanto de tráfico, tomem conta da comunidade. “Aocombater a milícia, abre-se um vácuo de poder naquela comunidadeque pode ser ocupado pelo tráfico ou por outra organização, àsvezes da própria milícia. Com a ocupação pelo tráfico, pode serainda pior para a população pois sabemos que todos aqueles que umdia apoiaram a milícia provavelmente serão vítimas de homicídiospor terem sido desse apoio”, considerou.