Mesmo com avenidas largas, Brasília enfrenta problemas de congestionamento no trânsito

21/04/2009 - 9h12

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A ida ao trabalho faz comque milhares de brasilienses das diferentes regiõesadministrativas do Distrito Federal (ex-cidades satélites) e de moradores doentorno (no estado de Goiás) se desloquem diariamente paraBrasília e consigam o inimaginável há alguns anos:congestionar o tráfego da cidade. O trânsito tornou-se um problema em avenidas que chegam a ter maisde seis faixas de rolamento no mesmo sentido.Brasília virou uma “cidade-sanfona”, afirma MaurícioPinheiro, chefe da divisão técnica da superintendêncialocal do Instituto de Patrimônio HistóricoArtístico Nacional (Iphan). Ele usa essa imagem para descrever o impacto diárioque Brasília sofre por absorver grande parte da atividadeeconômica do Distrito Federal. Segundo ele, acidade ocupa 9% do territóriodo Distrito Federal, onde moram menos de 15% da população local(de 2,5 milhões de habitantes), mas concentramaior parte dos postos de trabalho.

O Eixo Monumental, aVia Estrutural, a Estrada Parque Taguatinga-Guará (EPTG), aEstrada Parque Indústria e Abastecimento (EPIA) são osprincipais caminhos nas ligações de Brasília eabsorvem grande parte do movimento de mais de um milhão deveículos registrados no Distrito Fedral.Para a arquiteta e professora daUniversidade de Brasília (UnB), Sylvia Ficher, os problemasrodoviários de Brasília são decorrentes docrescimento, da metropolização e da “imprevidência”do planejamento posterior à instalação dacapital. Em sua opinião, “não hápermeabilidade urbana” e é preciso estabelecer novasligações e melhorar o transporte coletivo. Ela, noentanto, assinala que os problemas de tráfego em Brasíliaestão em seu DNA: “a visão de futuro que se tinha nadécada de 1950 era do urbanismo rodoviarista”.

Brasíliafoi pensada à época da entrada da indústriaautomobilística. As pessoas só iriam ao centro paratrabalhar, tudo seria feito nas superquadras. Esse modelo defuncionamento comunitário não conseguiu se efetivar.Talvez tivesse dado certo, se a cidade se mantivesse pequena”,lembra o sociólogo Márcio Oliveira, professor daUniversidade Federal do Paraná e autor da tese de doutorado“Estudo sobre o imaginário brasileiro: a cidade de Brasíliae o mito da nação”.

O geógrafo Aldo Paviani, também professor da UnB, faz um diagnóstico semelhante eaponta a necessidade de aumentar, por exemplo, os ramais do metrôpara a Esplanada dos Ministérios, a Asa Norte e o Setor deIndústria e Abastecimento (SIA). Mas além das ligações,é preciso descentralizar as atividades econômicas do DF,assinala.

As regiões administrativas precisam ficar “maisauto-suficientes, Brasília tem que ficar menos centrada”,concorda Regina Meyer, ex-estudante da UnB e hoje professora doDepartamento de História da Arquitetura da Faculdade deArquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP).