Iolando Lourenço e Marcos Chagas
Repórteres da Agência Brasil
Brasília - Há 24 anos, em 21 de abril de 1985 morria Tancredo Neves, depois de ser eleito presidente da República pelo Colégio Eleitoral em 15 de janeiro de 1985. A eleição de Tancredo marcou o rompimento de quase 21 anos de regime militar, que começou em 31 de março de 1964.A chapa da Aliança Democrática, formada por Tancredo e José Sarney venceu a chapa do PDS, de Paulo Maluf e Flávio Marcílio, por 480 votos a 180. A vitória foi costurada pelo ex-governador mineiro durante meses, juntamente com o presidente do seu partido, o PMDB, Ulysses Guimarães, lideranças daoposição ao governo militar e a então Frente Liberal – umadissidência do PDS, partido de sustentação ao regime militar.Imaginava-se à época que a chapa deveria ser formada por Tancredo eUlysses, mas para a formação do maior leque de alianças, Ulysses abriumão de sua candidatura.Para vencer a disputa, Tancredo eUlysses fizeram as mais variadas alianças e, por conseqüência,concessões a grupos radicais de esquerda até a dissidência do PDS. Tancredo venceu as últimas resistências ao anunciarcomo seu vice o ex-presidente nacional do PDS José Sarney, que haviarompido com o regime militar para formar a Frente Liberal. A formação da Aliança Democrática ocorreu após a derrota da Emenda Dante de Oliveira, em abril de1984, que previa eleições diretas para presidente da República. Ela sedeu por todos os partidos da oposição, à excecão do PT. O PMDB e outrospartidos da oposição tentaram ressuscitar a campanha Diretas Já nasruas, simultaneamente, surgiu o movimento Tancredo Já para aeleição do mineiro pelo Colégio Eleitoral. Mesmo nãoparticipando da aliança formada para eleger Tancredo Neves e JoséSarney, três deputados petistas compareceram ao Colégio Eleitoral evotaram em Tancredo Neves: Bete Mendes (SP), Airton Soares (SP) e JoséEudes (MG). A consequência foi a expulsão deles dos quadros do partido.Umdos carros-chefe da campanha foi Ulysses Guimarães,presidente nacional do PMDB e uma das maiores lideranças políticas,além de grande opositor ao regime militar. Ulysses já havia se lançadoem 1974 como o anticandidato ao regime militar. Ao enfrentar o generalErnesto Geisel, no Colégio Eleitoral, Ulysses obteve 74 votos contra400 dados a Geisel.Tancredo Neves era um oposicionista aoregime autoritário, mas um conciliador de linha moderada e formaçãoliberal, com vários mandatos parlamentares (vereador, deputado estadual,deputado federal e senador) e experiência no Executivo (ministro daJustiça, primeiro-ministro e governador de Minas Gerais). Pela suahistória política e por ser um conciliador, Tancredo era aceito pelosmilitares e não haveria risco de retrocesso.Muitas promessasforam feitas durante os mais de seis meses que antecederam a eleição noColégio Eleitoral. Essas promessas encheram de esperança a grandemaioria da população brasileira, que tinha ido às ruas e participado dediversos comícios pela aprovação da Emenda Dante de Oliveira. Mesmo coma derrota da Emenda Dante, a população não cruzou os braços e foi àluta pela redemocratização do país.Durante a campanha das Diretas Já, oentão governador de Minas Gerais articulava, nos bastidores, umaeventual candidatura sua à Presidência da República. Era evidente adificuldade de aprovação na Câmara da Emenda Dante de Oliveira e eratida como quase impossível sua aprovação no Senado, onde o governotinha a maioria de votos. Para chegar ao poder, ostancredistas precisavam unir a oposição num bloco políticosólido e provocar fissura na base do presidente João Figueiredo, último governo militar. Inúmeros acordos e promessastiveram que ser feitos, entre elas a de que o governo Tancredo seria o início de uma Nova República.Com promessasque o povo e os políticos queriam ouvir, a opinião pública ajudou osintegrantes do Colégio Eleitoral a eleger a chapa Tancredo Neves e JoséSarney. Uma das principais promessas de campanha, colocada emprática, foi a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte paraelaborar uma nova Constituição para o país. A que vigorava era a da época dos militares no poder.Eleito presidenteda República, Tancredo Neves percorreu o Brasil e foi a vários paísescomo novo chefe de Estado e de Governo. Acertou sua equipeministerial e estava tudo pronto para assumir a Presidência daRepública no dia 15 de marçode 1985. Mas o destino alterou a história e na véspera da posse,Tancredo passou mal durante uma missa e foi levado mais tarde aohospital para ser submetido a uma cirurgia.A noite de 14 para 15 de marçode 1985 foi longa. A doença de Tancredo produziu temor de retrocessopolítico. Militares e políticos buscaram uma saída para o impasse. Alguns militares chegaram a pensar na prorrogação do mandato dopresidente Figueiredo, hipótese totalmente descartada pelos civis e por outros militares.Vencida essa proposta, surgiramdúvidas sobre quem deveria assumir a Presidência da República naausência de Tancredo Neves: o deputado Ulysses Guimarães, presidente daCâmara, ou o vice-presidente eleito. Prevaleceu a última tese e namanhã do dia 15, Sarney assumiu a Presidência da República, noCongresso Nacional. Em 21 de abril, com a morte de Tancredo, José Sarney tornou-se o titular do cargo. Mesmocomo titular da Presidência da República, Sarney governou por longotempo com a equipe escolhida por Tancredo e cumpriu muitas daspromessas de campanha.