Novo modelo do setor elétrico requer ajustes, recomenda professor

19/03/2009 - 9h20

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Diante da crise internacional, o novo modelo do setor elétrico, que completa cinco anos de implantação, precisa de ajustes para superar eventuais problemas que estão surgindo na área. A avaliação é do professor Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Castro apontou, entre os problemas eventuais, a questão do meio ambiente, “que ainda está travando a construção de novas usinas hidrelétricas”, e o mercado livre, com elevada volatilidade de preços, que “gera incerteza para as indústrias que participam desse mercado”.

Para debater esses e outros entraves ao desenvolvimento do setor, o Gesel promove nos dias 23 e 24 deste mês, no Rio, o seminário Cinco Anos do Novo Modelo: Realidade e Perspectivas para o Setor de Energia Elétrica. O encontro reunirá autoridades como os ministros Dilma Rousseff, da Casa Civil, e Edison Lobão, de Minas e Energia, além de especialistas e empresários.

Para Nivalde de Castro, a crise financeira internacional não vai afetar de forma drástica o modelo em vigor no Brasil, porque ele tem “fundamentos muito sólidos, principalmente os leilões que são realizados”. Como exemplo, citou o leilão de linhas de transmissão de 2,5 mil quilômetros do Rio Madeira, realizado em novembro passado, que  projetou  investimentos em torno de US$ 3,3 bilhões.

“Houve interesse por parte das empresas de participar desse empreendimento. E isso em um momento de crise grave que o mundo e o Brasil estavam passando. Essa é uma prova  de que o modelo está blindado, porque ele se apóia em leilão, se apóia em contratos de longo prazo”.

O coordenador do Gesel destacou a necessidade de que seja trazida mais bioeletricidade, como o bagaço da cana, e mais energia eólica (produzida a partir dos ventos), para a matriz energética, por meio da realização de leilões específicos para essas duas fontes renováveis. Isso servirá para evitar o que os especialistas já estão chamando de “armadilha das usinas térmicas  a óleo”. É preciso, disse Castro, promover um ajuste na maneira como as usinas a óleo têm os valores fixados  nos leilões.

O novo modelo do setor elétrico conseguiu se consolidar e superar todos os problemas herdados do modelo anterior, baseado quase exclusivamente na privatização dos ativos e  do próprio planejamento,  disse Nivalde.

“A crise do apagão mostrou claramente  que o modelo anterior não tinha sustentação e capacidade de resolver os problemas de investimento e de expansão do setor elétrico brasileiro”. O novo modelo foi iniciado entre 2003 e 2004 e hoje é copiado internacionalmente. O coordenador citou o caso do Peru, que está, segundo informou, pedindo investimentos brasileiros por meio da Eletrobrás, para  expandir a capacidade instalada do setor elétrico, de modo a evitar riscos de desabastecimento.