Com a queda nos preços de recicláveis, catadores abandonam a atividade

19/03/2009 - 19h21

Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Aredução nos preços dos materiais recicláveiscausou grandes impactos nos rendimentos dos catadores, e muitos deles estão abandonando a atividade. É o caso da Coopercicla, cooperativa localizadano bairro de Santo Amaro, zona sul de São Paulo (SP). Segundopresidente da entidade, Joacyr Alvez, nos últimos quatromeses 70% dos cooperados deixaram a atividade. “Tínhamos 75 pessoas trabalhando em três turnos de 8horas, 24 horas sem parar. Agora só temos um turno que estádefasado”, relatou.A queda de rendimento está relacionada à crise internacional que provocou uma queda forte nas cotações de commodities (alumínio, plástico, papel) que são importantes matérias-primas de produtos. O plástico PET, usado em garrafas descartáveis, teve redução de 20% nos preços, segundo o responsável pelas Relações com o Mercado da Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet), Hermes Contesini.“O PET reciclado tem inúmeras aplicações,como roupas e tapetes de automóveis”, explicou Contesini. “O mercado todo se ressentiu com acrise.”

Alvez, da Coopercicla,atribuiu o desinteresse dos cooperados com a atividade àdiminuição “brutal”, de mais de 70%, nosrendimentos. O lucro de um catador caiu de R$ 900,00para R$ 250,00 por mês.As contas de água, luz e o aluguel da sede da cooperativa permaneceram asmesmas, enquanto alguns itens coletados pela Coopercicla, como opapel jornal, valem 85% menos.

ACooperativa Viva Bem, localizada na zona oeste da capital paulista,também teve um índice de evasão de cooperados significativo,de aproximadamente 30%, segundo a presidente TeresaMontenegro. Ele disse que as pessoas estãomudando de atividade ou mesmo voltando àcriminalidade por falta de opções.

"Muitos arrumaramoutras coisas para fazer, outros não estão fazendo nadae alguns estão fazendo o que não deve”, contou. Montenegro explicou que a estratégia da cooperativa é aumentar a produção para recuperar parte dareceita. Com os novos preços pagos pelo mercado derecicláveis, as mesmas 160 toneladas de material que rendiampor volta de R$ 75 mil agora garantem apenas R$ 40 mil para os cofresda cooperativa.

Produzirmais é também o modelo adotado pela Coopere, com sedeno centro de São Paulo. O coordenador Sérgio LuísLongo lamentou que os cooperados agora trabalhem 16 horas por diapara conseguir lucro 50% menores dos recebidos na época em queatuavam em turnos de 12 horas. Segundo ele, os membros dacooperativa só não abandonaram a atividade porfalta de opção. “Se todo mundo tivesse o que fazer,tinha acabado a reciclagem”, afirmou.

SegundoSérgio Luís, os cooperados estão buscando outrasatividades para lidar com a crise. “Porque se a gente forviver só do lixo, vamos acabar falindo”, queixou-se. Elealegou que as empresas compradoras de material reciclável “seaproveitam da situação[da crise financeira mundial]”para pagar preços muito baixos pela sucata.

O secretário da Cooperativa de Catadores da Baixada do Glicério, Sérgio Bispo, acredita que a cadeia de produçãoda reciclagem “é injusta com o catador”. Ele acusou as empresas de obterem grandes lucros comprando o material a preço muito baixo das cooperativas e dos trabalhadores autônomos.