Ex-presidente Collor admite que bloqueio da poupança foi um erro

18/03/2009 - 14h22

Pedro Peduzzi
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Oex-presidente da República e atual senador Fernando Collor (PTB-AL) reconheceu hoje (18) que o bloqueio do dinheiro das cadernetas de poupança, adotado por ele em1990 a pretexto de conter inflação, foi um equívoco e que “tropeçosaconteceram” quando esteve na Presidência. As revelaçõesforam feitas durante a gravação do Programa 3 a 1, da TVBrasil, que vai ao ar hoje às 22h.“Naquela época, querendo fazer os ajustes de formarápida, equivoquei-me. Certamente, eu não teria adotado um programaeconômico que causasse tanto desassossego”, disse. “Se tivesse outrachance, não teria bloqueado a poupança de pessoas físicas e jurídicas.” Collor se recusou a classificar a medida como confisco. “A meu ver o que fizemos foi bloqueio [da poupança].”O ex-presidente admitiu ainda ter cometidooutros “erros cruciais e fatais”. Entre eles, citou “a falta de diálogocom a classe política e com [políticos e empresários de] São Paulo".Sobreo processo que o levou ao impeachment em 1992, Collor acredita que não o teria sofrido caso tivessemantido uma boa relação com o Congresso Nacional e que todo o processo teve início no pedido dele à Procuradoria Geralda República para abrir todos os processos e investigações necessários para o caso. Ele disse acreditar que “umpresidente eleito com a força do voto direto terianaturalmente o apoio do legislativo, que ficaria no aguardo dasmedidas, tendendo a apoiá-las". Segundo Collor, sua preocupação estava em consolidar uma base de sustentação naquele primeiro momento do governo, o que não se concretizou. "A CPMI[Comissão Parlamentar Mista de Inquérito] não teria prosperado casohouvesse base de sustentação no Legislativo.”Collor afirmou que não teve como se defender naquele momento: “Os direitos dedefesa me foram cerceados em todos os momentos, e todos os prazos foramantecipados de forma brutal. Tanto o regimento do Congresso Nacionalquanto a própria constituição. A lei do impeachment sequer havia sidoregulamentada. O que havia era uma uma lei recuperada da Constituiçãoem 1950”. A extinção do ServiçoNacional de Informações (SNI) teria, segundo Collor, complicado aindamais a situação. “Eu não sabia exatamente o que acontecia porque haviaextinguido o SNI e não havia tido tempo de substituir por uma assessoriade inteligência para a Presidência da República nos moldes em que achoque deveria ser, que é de política e de captar as correntes de opiniãono Congresso em relação a políticas externas, geopolítica."Hoje no comando da Comissão de Infra-estrutura do Senado, Collor disse que pretende atuarde forma a auxiliar a ministra Dilma Rousseff para que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal avancerapidamente e as obras sejam concluídas. Ele disse ter simpatiapessoal por Dilma e que uma eventual candidatura dela à Presidência daRepública teria também a sua simpatia. “O momento é de o Brasil ter a união de todos para avançar nos próximos dois anos.”“Souentusiasta do PAC, aliado do presidente Lula e faço parte de sua basede sustentação”, garantiu. “Sempre exaltei o projeto, e ele precisacontinuar avançando. Desde Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek nãotivemos um governo que assumisse uma postura de indutor dodesenvolvimento.”Os excessos cometidos durante acampanha eleitoral de 1989 foram, segundo Collor, motivo para o pedidode desculpas apresentado por ele a Lula (presidente Luiz Inácio Lula da Silva)e ao presidente do Senado, JoséSarney (PMDB-AP). Outro ponto defendido pelo ex-presidente foi a reformapolítica. Segundo ele, as regras do jogo político apresentam  deficiênciase precisam ser mudadas. “Não só apenas na legislação eleitoral oupartidária, mas na forma institucional. O financiamento público decampanha não pode acontecer sem que haja o fim das coligações naseleições proporcionais. E não se pode falar em financiamento público decampanha sem que se fale no voto de lista fechada”, disse