Governo argentino fecha acordo com ruralistas

04/03/2009 - 20h05

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Depois de quase um ano de embates, o governoargentino chegou a um acordo com os produtores rurais na ajuda aosaos setores de leite, carne, trigo e milho e no estímulo àseconomias regionais. As medidas foram acertadas em reuniãoentre as quatro principais entidades ruralistas do país e osministros do Interior, da Produção e da Agricultura. A presidente Cristina Kirchner apareceu desurpresa e fez um apelo para que todos os segmentos da economiacompreendam a situação de crise internacional eprocurem manter suas atividades. Ela levantou bandeira branca,convidando o setor agropecuário a integrar o ConselhoEconômico Social do governo. Segundo informações da agênciaargentina de notícias Telam, entre as ações,foram eliminadas as chamadas retenções (impostos) detodos os produtos lácteos para exportação efixada a compensação de $ 0,10 (equivalentes a US$ 0,027) por litro de leite e outra compensação paracriadores de gado de leite que criem bezerros machos confinados.Quanto à produção de carnes,ficou acertado que o governo enviará ao Congresso uma leifederal para estruturação do setor e uma norma deestímulo fiscal à produção de novilhospesados e será concedida quota anual adicional de de 60 miltoneladas para exportações de algumas categorias.Também será implementado sistema de compensaçãoaos produtores de bovinos prejudicados por condiçõescomerciais desfavoráveis na venda de bezerros para recria(engorda).No setor de trigo, será elevado o preçomínimo da tonelada de trigo de $ 370 para $ 420 (US$ 116 ou R$273 – no Brasil, o preço mínimo é de R$ 480). Também foi alterado o regime de compensação amoinhos que vendem para o mercado interno e estabelecida compensaçãopara a saca de farinha especial destinada ao setor manufatureiro.Além de propor medidas setoriais, o governocentral também se comprometeu a analisar com os governadores,caso a caso, uma redução de até 50% nasretenções. De acordo com a ministra da Produção,Débora Giorgi, todas as ações visam estimular ospequenos produtores, especialmente a produção de maiorvalor agregado, o abastecimento e as exportações. As lideranças representativas do setoragropecuário saíram animadas da reunião.“Começam a ser restabelecidos alguns laços do acordoque permitem recuperar a confiança nas medidas que o governoanuncia”, afirmou o presidente da ConfederaçõesRurais, Mario Llambías, em coletiva de imprensa após areunião. Para o presidente da ConfederaçãoIntercooperativa Agropecuária (Coninagro), Carlos Garetto, aparticipação de Cristina Kirchner foi uma demostraçãoda vontade política de solucionar temas conflituosos. “Ocomparecimento da presidente é um sinal de aproximaçãodo governo, sem nenhuma dúvida, é um sinal que deve serinterpretado como integrador”, disse o presidente da FederaçãoAgrária Argentina (FAA), Eduardo Buzzi. As medidas devem ser implementadas em 15 dias ecustarão cerca de US$ 390 milhões aos cofres públicos.Mais ações podem ser anunciadas na próximasemana, em uma nova reunião entre governo e ruralistas. Háexpectativa quanto a criação da chamada Junta Nacionalde Grãos, que seria uma agência comercializadora degrãos. Também devem avançar as conversas emrelação às economias regionais. O governodescarta, no entanto, a redução nas retençõesde soja. Há meses os ruralistas pressionam o governopela redução de impostos sobre exportaçõesde grãos e por ajuda aos setores prejudicados pela pior secadas últimas quatro décadas e pela queda nos preçosinternacionais das commodities. As perdas estimadas pelo setor, para2009, são de US$ 12,51 bilhões. No setor de grãos, a projeçãoé de recuo de 44% em relação a 2008,especialmente na produção de trigo, milho, girassol esoja, com perda da ordem de US$ 10 bilhões. No caso dosprodutores de leite, a estimativa é de que deixem de faturarUS$ 677 milhões devido à política de preçosdo governo e outros US$ 260 milhões em razão da seca.Já as perdas estimadas para a pecuária são deUS$ 1,49 bilhões.