Falta de grooving em Congonhas pode ter causado derrapagem, diz presidente da Pantanal

07/08/2007 - 20h22

Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Em depoimento hoje (7) à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Apagão Aéreo na Câmara dos Deputados hoje (7), o diretor-presidente da Pantanal Linhas Aéreas, Marcos Sampaio Ferreira, admitiu que a derrapagem com o avião ATR-42 da companhia pode ter ocorrido devido ao acúmulo de água na pista principal do Aeroporto de Congonhas (SP).Segundo ele, a ausência de groovings (ranhuras na pista que facilitam o escoamento da água, aumentando a aderência do asfalto) “deve ter feito diferença” para que o piloto não conseguisse controlar o avião na pista molhada pela chuva.

No dia 16 de julho, véspera do acidente com o Airbus da TAM, a aeronave da Pantanal derrapou após pousar. Ela invadiu o canteiro central, entre a pista principal e a auxiliar, provocando a interrupção dos pousos e decolagens

Apesar de afirmar que as causas da derrapagem do ATR-42 só serão conhecidas quando o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) terminar a investigação, Ferreira declarou que a aquaplanagem do avião é uma hipótese provável, principalmente depois de o Cenipa ter concluído que o avião não apresentou nenhum problema.

De acordo com Ferreira, um pneu estourou após a aeronave, já descontrolada, se chocar contra um obstáculo na pista, provavelmente uma boca-de-lobo.

Apesar das considerações a respeito da pista, os deputados avaliaram que o depoimento acrescentou pouco aos trabalhos da CPI, pois o presidente da Pantanal foi o tempo todo evasivo. O deputado Miguel Martini (PHS-MG) chegou a questionar se a postura cautelosa do empresário era por zêlo ou por temer represálias.

Alegando não saber a resposta para várias das perguntas mais polêmicas, Ferreira recorreu o tempo todo ao auxílio do diretor-geral da companhia, Ramiro Andreotti Tojas, autorizado pelos parlamentares a responder no lugar de Ferreira.

Moderado em relação à derrapagem do ATR-42, Tojal foi mais incisivo ao falar sobre a eventual responsabilidade da falta de grooving para o acidente. Para Tojal, é recomendável que o grooving seja feito em todas as pistas construídas em localidades com alto índice de chuva.

“A empresa realiza entre 700 e 800 decolagens e pousos mensais em Congonhas, onde opera há mais de 14 anos. Desde 1994, com esse modelo de avião [ATR-42]. Nunca aconteceu antes. E sempre teve grooving. Mesmo o grooving emborrachado impediu que isso ocorresse”.

Perguntado se concordava com a liberação da pista sem as ranhuras, o diretor da Pantanal disse que, antes do término da reforma, no fim de junho, representantes da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero), reunidos com diretores das companhias aéreas, teriam declarado que a previsão de chuvas para o mês de julho previa índices “desprezíveis”.

“Resolveram acreditar no baixo índice pluviométrico para julho, mas esqueceram de combinar isso com São Pedro”, ironizou, antes de lembrar que a primeira chuva do mês ocorreu no dia 13, data em que, segundo ele, vários pilotos relataram que a pista estava escorregadia.  Procurada, a Infraero não comentou o assunto.

A Pantanal também voa para o interior paulista, Minas Gerais e Bahia. A empresa dispõe de seis aeronaves ATR-42. A que derrapou no dia 16 ainda não voltou a ser utilizada, embora o Cenipa já a tenha liberado para o conserto.

Ferreira avalia que a transferência de vôos de Congonhas para o Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, trará prejuízos às companhias aéreas. No entanto, ele admitiu que o número de autorizações de linhas (slots) já haviam se esgotado. “Talvez se o aeroporto for melhor equipado, com equipamentos de aproximação, por exemplo, isso não pode ser revisto”.