Sistema de saúde de capital mineira mostra desafio das regiões metropolitanas

17/06/2007 - 15h33

Irene Lôbo*
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A capital Belo Horizonte, apesar de ter os mesmos problemas que afligem todas as grandes metrópoles, tem um sistema de saúde considerado bom. Quem diz isso são os dados recolhidos no banco de dados do Sistema Único de Saúde (SUS) e no Atlas do Desenvolvimento Humano (dados de 2000), do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) (dados de 2004).Um rápido raio-x mostra que, para os 2,5 milhões de habitantes da capital, há água encanada para 98% da população, energia elétrica para 99,8% e coleta de lixo em 98,4% da casas. Em relação ao sistema de saúde propriamente dito, existem quatro médicos para cada mil habitantes da capital. No Brasil, por exemplo, a média é de 0,27 médicos para cada mil habitantes. A mortalidade infantil até um ano de idade na capital mineira é de 27,25% dos nascidos vivos. No Brasil, a média é de 30,10%.Parte desses números pode ser creditado ao trabalho do secretário Helvécio Magalhães Júnior, que ocupa o cargo de Secretário Municipal de Saúde de Belo Horizonte há cerca de seis anos, todos na gestão do prefeito Fernando Pimentel (PT). Recentemente, Helvécio foi eleito para presidir o Conselho de Secretários Municipais de Saúde (Conasems).Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, ele conta que Belo Horizonte dispõem de um total de 36 hospitais, sendo um municipal, dois federais, sete estaduais e o restante filantrópicos e privados. Há cerca de 5.500 leitos na capital, uma média de 3,2 leitos por habitante. A rede também conta com 141 postos de saúde, 150 ambulatórios e 507 equipes do Programa Saúde da Família, que dão cobertura à 76% da população da capital.Há ainda 26 ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), sendo 22 básicas, quatro avançadas e uma com equipe especializada em atendimento à saúde mental. Trabalham na capital cerca de 15 mil profissionais de saúde, dos quais metade são terceirizados. Dos profissionais, 2.500 são agentes comunitários de saúde, e 1.200 fazem o serviço de controle de endemias, como a dengue.Toda essa estrutura custa aos cofres municipais R$ 45 por mês por habitantes, explica o secretário Helvécio Magalhães. No total, a secretaria de saúde do município tem esse ano um orçamento de R$ 1 bilhão, dos quais 60% são recursos do governo federal, 35% da prefeitura e 5% do estado.Segundo o secretário, um dos problemas que atinge em cheio o sistema de saúde de Belo Horizonte é a violência em algumas áreas da capital. Ele conta que a cidade é a quarta região metropolitana mais violenta do país, atrás de São Paulo, Rio de Janeiro e Recife. Mesmo com dificuldades para trabalhar em ambientes violentos, o secretário conta que o sistema de saúde não deixa de prestar atendimento à população que vive nesses locais.“Nós tomamos há muitos anos aqui em Belo Horizonte a decisão de não nos afastarmos das áreas de violência. Pelo contrário, nós entramos cada vez mais nas áreas de violência. A expansão das políticas públicas na saúde, na educação, na assistência, na questão urbana, ela entrou para dentro das áreas. Nós não fizemos uma saída do Estado dessas áreas”, explica.Outra questão que na opinião de Helvécio Magalhães merece atenção da prefeitura é a grande quantidade de pessoas que vivem na região metropolitana de Belo Horizonte mas vêm buscar atendimento no sistema de saúde da capital. “É possível que Belo Horizonte seja a capital que mais oficialmente atende no campo da internação pessoas do interior. Cerca de 45% das internações em Belo Horizonte são de fora. No Rio de Janeiro são 18% e em São Paulo, 11%. Então é um volume extraordinário”, afirma.Para exemplificar o problema, ele conta que recentemente foi realizado o cadastramento de uma fila de 30 mil pessoas para cirurgias eletiva e mais de metade das pessoas que disseram que moravam em Belo Horizonte não foram encontradas pelos agentes comunitários de saúde. Os pontos positivos e negativos da saúde na capital mineira estão sendo discutidos até este domingo, na 9ª Conferência Municipal de Saúde de Belo Horizonte. De acordo com Helvécio, há principalmente desafios em três campos da saúde da cidade: na atenção básica, nas relações de trabalho e na estruturação das urgências.“O desafio das urgências, que é a agenda negativa mais colocada no SUS, a falta de leitos, de humanização, capacitação, a não-integração com o sistema; as especialidades, ainda não há um projeto para a média complexidade, há uma certa lacuna entre a atenção básica e a alta complexidade; trazer para o SUS as agendas como os controles dos riscos da saúde, a luta antitabagismo, a temática do álcool, da violência, da insegurança nas grandes regiões metropolitanas, a questão dos acidentes de trânsito, dos fatores para as doenças crônico-degenerativas”, explica.