Criação de avestruzes avança no Brasil

30/01/2004 - 10h07

Da Agência Anba

São Paulo - Se há alguns anos o avestruz não passava de um animal exótico que podia ser visto correndo a até 60 km por hora nas savanas africanas, hoje começa a se tornar um grande negócio para empresários brasileiros. As primeiras espécies foram trazidas ao país em 1996 e, agora, estima-se que já existam cerca 50 mil aves e 1,5 mil produtores em território nacional.

É possível ainda investir nas fazendas que criam as aves e, de acordo com a Associação dos Criadores de Avestruzes do Brasil (ACAB), as taxas de rendimento têm ficado entre 30% e 50% ao ano. "O abate tem se multiplicado no país e o interesse pela ave também", afirma o presidente da entidade, Celso da Costa Carrer.

Para quem desconfia de tanta euforia e ganhos altos, Carrer diz que o crescimento tem motivos bem concretos. Para ele, "o valor agregado" de uma criação de avestruzes é muito alto. Uma das razões é o fato de o cultivo gerar vários negócios paralelos. Além da carne, o couro, as plumas, os filhotes e até mesmos os ovos inférteis, os bicos e as unhas das aves têm valor comercial. O Brasil, por exemplo, é o maior importador mundial de plumas de avestruz: compra em torno de 15 toneladas por ano, que são usadas nas fantasias de carnaval e em outras festas típicas do país, diz Carrer.

Há ainda outros apelos, como a qualidade nutricional da carne. Pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), por exemplo, mostrou que o avestruz tem menos gordura, colesterol e calorias que outras carnes, inclusive das de frango e peru, tidas como opções "light". A aparência e o sabor, porém, são bem semelhantes ao das carnes vermelhas. "É uma carne parecida com o filé mignon", garante Giovanni Costa, sócio de duas empresas do setor no Brasil, a Avestro, especializada na produção de carnes, e a Struzzo, fabricante de artigos de couro de avestruz.

A desvantagem é o preço. Segundo Costa, um quilo de carne de avestruz custa em média R$ 55, mais do que o dobro do valor cobrado por uma peça de filé mignon ou de picanha. A expectativa de empresários, no entanto, é de que o preço caia conforme a produção aumente no país.

África do Sul lidera mercado

A produção brasileira ainda é pequena, de cerca de 30 toneladas por ano. Para se ter uma idéia, a África do Sul - líder mundial, que detém em torno de 70% do mercado internacional - produz 30 toneladas por dia, quase 11 mil toneladas por ano, de acordo com Costa.

No Brasil, como o cultivo é recente e, por isso, não há produção em grande escala, os empresários ainda não pensam em exportar. "A oferta precisa crescer. Hoje, os pedidos mínimos de importação são grandes para a gente", explica Celso Carrer. Para Giovanni Costa, as vendas externas devem demorar mais cinco anos. Além de volume, ele acredita que falta ao Brasil "qualidade e preço para atuar no mercado externo".

Lojas especializadas

Assim, as expectativas e iniciativas de negócios se voltam para o mercado interno. Segundo Costa, o faturamento do setor tem crescido cerca de 20% ao ano. "A aceitação está sendo ótima. Temos até de segurar o marketing", diz. Carrer concorda: "Estamos contendo a divulgação". Isso porque a maioria das empresas iniciou o abate das aves adquiridas em 1996 apenas no ano passado. "O abate está no começo", explica o sócio da Avestro e da Struzzo.

Os novos negócios, entretanto, estão a todo vapor. Celso Carrer, por exemplo, inaugurou neste mês em Alphaville, São Paulo, uma espécie de parque temático de avestruzes: o Ostrich Center. O local reúne uma mini-fazenda de avestruzes aberta para visitação, um restaurante especializado em pratos com a ave, lojas de decoração e de roupas, além de abrigar a sede do grupo Ostrich do Brasil, do qual Carrer é presidente.

Também em Alphaville - e também em janeiro -, a Avestro inaugurou sua primeira loja de carne de avestruz. O estabelecimento vende 11 tipos de cortes da ave, hambúrguer e também uma lingüiça da marca Ceratti que é produzida com a carne fornecida pela empresa.

O fato de os dois empreendimentos serem inaugurados em Alphaville é coincidência, mas boa parte das empresas do setor se concentra em São Paulo e no Centro-Oeste. Os motivos são o clima e a vegetação. Os avestruzes são animais típicos das regiões mais áridas da África e, por isso, as características do Centro-Oeste e do interior paulista são propícias à criação, explica Carrer.

Artesanato, jóias e calçados

A carne é o carro-chefe do setor, mas a venda de outros produtos feitos a partir do avestruz também anima os empresários. Um deles é o couro da ave, que pode ser usado na confecção de bolsas, sapatos e outros artigos de couro. É o que vem fazendo a Struzzo.

A empresa paulista apresentou na edição deste ano Couromoda, maior feira do setor na América Latina, que aconteceu em São Paulo, alguns modelos de sapatos, bolsas, cintos e outros acessórios feito a partir do couro do avestruz. Giovanni Costa diz que a participação no evento aconteceu para "divulgar os produtos", mas que a intenção da empresa é fornecer a matéria-prima para grandes marcas como a Daslu e a Iódice.

As plumas da ave, além do carnaval, são usadas na confecção de espanadores. As cascas dos ovos inférteis são aproveitadas no artesanato e na fabricação de objetos de decoração, como luminárias ou esculturas. Os bicos e as unhas do avestruz podem ser utilizados na produção de jóias e a indústria internacional de cosméticos, principalmente as da Inglaterra e Austrália, segundo a ACAB, vêm empregando o óleo de avestruz como matéria-prima para cremes, sabonetes e batons, entre outros produtos.