Italianos restauram afrescos inéditos da coleção Imperatriz Tereza Cristina

14/01/2004 - 10h40

Rio de Janeiro, 14/1/2004 (Agência Brasil - ABr) - Dois afrescos de Pompéia que integram a Coleção Imperatriz Tereza Cristina, do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, estão sendo restaurados desde a última quinta-feira no Rio de Janeiro. O trabalho é feito pelos restauradores Pietro Tranchina e Francesca Rabi, dos museus arqueológicos de Roma e Bolonha. Todo o processo é financiado pela União Latina e pelo Instituto Italiano de Cultura de São Paulo e está orçado em R$ 80 mil. Em março, as peças estarão na exposição Pompéia - Testemunho de uma Civilização, no Museu de Artes de São Paulo (Masp), parte da comemoração dos 450 anos da capital.

Os afrescos foram encontradas em Pompéia em 1853, cidade que foi destruída em 79 d.c pela erupção do vulcão Vesúvio, e foram trazidas para o Brasil pela imperatriz, mulher de D. Pedro II. Ainda inéditos ao público, as peças datam possivelmente de 50 ª c e 50 d.c e têm motivos mitológicos marinhos. Na opinião de Pietro Tranchino, eles são os objetos mais valiosos de toda a Coleção Imperatriz Tereza Cristina, que possui cerca de 750 peças e é considerada a maior coleção de arte-greco romana da América Latina. "São peças muito refinadas, não dá para estabelecer um valor. Elas são do melhor período romano e foram feitos por artistas anônimos de Pompéia", afirmou Tranchina que se diz gratificado em trabalhar com obras tão valiosas.

As obras estavam guardadas na reserva técnica do museu. Em 1918, elas já haviam sido restauradas. Na época, acreditava-se que era possível proteger as pinturas com uma cera, molduras de madeiras e cobertura de vidro. Com o tempo, a cera escureceu e as imagens ficaram escondidas. Os restauradores começaram o trabalho sem saber o que iriam encontrar. Foi necessário retirar tudo o que havia sido feito e "mapear" toda a peça, como num quebra- cabeça, para se chegar à forma das figuras e o mais próximo possível da cor original. Após o restauro, os afrescos serão acoplados a um material composto por alumínio, resina e pó de vidro. Segundo Tranchina, é um material que é usado na composição das asas de aviões por ser leve, resistente e não se alterar com o tempo.

O restaurador e sua assistente trabalham continuamente e contam com a ajuda de restauradores do Museu da Quinta. Eles ainda limparam outros dois afrescos que integram a exposição permanente do Museu. Segundo a diretora da União Latina no Brasil, Martha Vianna, ele foi convidado porque está acostumado a trabalhar com os mais variados materiais, além disso a Itália é o país onde estão os melhores restauradores do mundo. A curadora das Coleções Arqueológicas do Museu Nacional, Tânia Andrade Lima, explicou que, como as peças foram produzidas na Itália, o museu achou mais seguro trabalhar com restaurador já familiarizado com o material. "A vinda de Tranchina possibilitou que as imagens dos afrescos viessem à luz, isso foi maravilhoso", disse.

A restauração dos dois afrescos é o início de um projeto da União Latina, entidade que congrega 35 países de língua latina, em parceria com o Museu Nacional da Quinta da Boa vista, que prevê o restauro de toda a Coleção Imperatriz Tereza Cristina. O projeto, avaliado em R$ 2 milhões, está na fase de captação de recursos e a União Latina acredita que, a partir da exposição no Masp, quando serão mostradas cinco peças: os dois afrescos, dois amuletos de terracota e um vaso de bronze, apareçam entidades com interesse em patrocinar. Segundo Martha Vianna, além de restaurar, a entidade quer criar um catálogo com todas as peças. Para a curadora Tânia Andrade, o projeto é visto com bons olhos, porque o museu está passando por uma nova fase, buscando parcerias. "Nós fechamos uma parceria com a Fundação Vitae para recuperar as reservas técnicas e estamos acordados com a União Latina para a restauração da coleção Tereza Cristina. Não são ações pontuais, é um projeto muito maior que envolve toda a reestruturação do Museu Nacional".

Há alguns anos, Tânia havia procurado o Museu de Nápoles, na Itália, para buscar ajuda na restauração dos afrescos. "Eles me incomodavam muito. Me inquietava ter duas peças, cujas imagens não podiam ser vistas, mas por falta de recursos não conseguimos avançar". Segundo ela, quando a União Latina sinalizou com o desejo de criar o catálogo, o Museu colocou a contrapartida da restauração dos dois afrescos.

O restaurador Pietro Tranchina e sua assistente Francesca Rabi ficam no Brasil até o dia 19. Ele deve voltar assim que a restauração de toda a coleção for iniciada.

Teresa Cristina Maria de Bourbon

Pouco conhecida dos brasileiros, a imperatriz Teresa Cristina nasceu em 24 de março de 1822 em Nápoles. Filha de Francesco I de Bourbon, príncipe herdeiro do Reino das Duas Sicílias, e de sua segunda esposa, Maria Isabel de Bourbon, Infanta de Espanha (filha do rei Carlos IV), ela casou-se por procuração com Dom Pedro II, Imperador do Brasil, em 30 de maio de 1843.

A diretora do escritório da União Latina no Brasil, Martha Vianna, explicou que a família Bourbon tinha tradição em arqueologia. Segundo ela, foi a primeira família a começar as escavações em Pompéia. A própria imperatriz financiou e promoveu escavações arqueológicas na localidade de Veio, município romano de origem etrusca, e chegou a ser chamada de a imperatriz arqueóloga.

Documentos do Archivio Storico del Museo Nazionale di Napoli apresentam cartas trocadas com seu irmão Ferdinando II, que assumiu o trono após a morte do pai. Teresa Cristina pede objetos de Pompéia e Herculano e outras antigüidades para o Museu do Rio de Janeiro. Começava assim a se formar a coleção que reuniria peças do ‘‘Museo di Napoli’’. Tereza também ficou conhecida como "A Mãe dos Brasileiros" , Viveu 46 anos no Brasil. Com a proclamação da República, foi para a cidade de Porto, em Portugal, onde morreu em 28 de dezembro de 1889, dizem que por desgosto e saudade do Brasil.