Rio - A história registra uma série de festas e celebrações de características carnavalescas entre os mais variados povos. Tudo era pretexto para comemorações: a abertura do ano agrícola, a fecundidade, a colheita, os mortos, os deuses. Na Europa, de onde veio grande parte das tradições brasileiras, as festas mais importantes eram as saturnais e as bacanais dos romanos. As primeiras comemoravam a entrada da primavera e as outras eram realizadas em honra a Baco, deus do vinho e do delírio místico. Nenhuma dessas festas, porém, tinha ordem cronológica. As datas variavam de região para região.
Somente depois da assimilação dos costumes cristãos, elas vieram a obedecer um calendário mais ou menos preciso. A liturgia cristã previa um período de preparação para a Páscoa, intitulado Quaresma, que deveria ser guardado com jejuns e abstinências de carne e de diversões. Isto fez com que todas as festas da antiguidade acontecessem antes da Quaresma, como uma espécie de desforra do povo pelas privações que seria obrigado a suportar por imposição religiosa.
Das orgias e bacanais da antiguidade até os modernos carnavais, muita coisa se modificou. As festas bárbaras foram abrandadas mas a essência foi conservada: o descompromisso, a música barulhenta, as fantasias e as máscaras permanecem até hoje. O carnaval correspondia ao período anual de festas profanas que se iniciava no Dia de Reis, ou Epifania, e se estendia até a quarta-feira de cinzas, quando começavam os jejuns da Quaresma. Os três dias anteriores à quarta-feira de cinzas eram dedicados a toda espécie de diversões, folias e folguedos, constituindo o chamado Tríduo de Momo.
A cidade de Nice, na Riviera, foi durante muitos anos o maior centro carnavalesco da França. Os turistas foram a grande motivação dessa festa quando o prefeito local, ainda no século XIX, achou que os visitantes que procuravam a cidade para passar o inverno estavam retornando muito cedo a seus lugares de origem. Para prolongar a estadia dos turistas, ele resolveu criar o Carnaval de Nice, que marcou de certa forma o início da indústria da folia, abrangendo os operários especializados na construção dos carros enfeitados com papier-maché e outros materiais brilhantes, profissão que era passada de pai para filho.
Depois do carnaval brasileiro, a festa mais famosa nas Américas é a da cidade de Nova Orleans, nos Estados Unidos, que leva o nome de Mardi Gras. A terça-feira gorda é o dia do desfile Zulu, ao som do mais puro jazz e com a presença do Rei Zulu, que representa a população negra da cidade. Um dos mais famosos Reis Zulu que Nova Orleans teve foi o saxofonista Louis Armstrong que, em 1949, desfilou triunfalmente pelas principais ruas da cidade.
Os historiados narram que o carnaval de Veneza, na Itália, teve sua origem na rebelião de Ulrich, patriarca de Aquiléia, no século XIII. O chefe da República, ou Doge, enviou contra Ulrich uma frota, aprisionou-o e tomou-lhe 12 canhões. No final da disputa, Ulrich foi perdoado e posto em liberdade, sob a condição de sua cidade enviar a Veneza como tributo, em cada quinta-feira de carnaval, um touro e 12 porcos. Os animais eram levados à Praça de São Marcos para serem sacrificados sob aplausos e festas do populacho.
Na Espanha,o carnaval foi proibido pelo Rei Felipe V, que temia as consequências dos excessos praticados pelos foliões mascarados. Seu sucessor, Carlos III, porém, restabeleceu as festas e introduziu no teatro os bailes de máscaras. Outro monarca espanhol, Fernando VII, só permitia que os disfarces ocorressem no interior das casas.
Durante a regência de Maria Cristina, os bailes readquiriram o antigo esplendor. Madri, Sevilha, Cádiz e Valença registravam os mais animados festejos carnavalescos e também os de mais apurado gosto artístico. Também em Barcelona ficaram famosas as festas organizadas pela Sociedade de Borne e outras associações recreativas, com o desfile de luxuosas cavalgadas e concorridos bailes de máscaras no Grande Teatro do Liceu.
O carnaval de Estoril, em Portugal, foi realizado pela primeira vez em 1959. Além das danças folclóricas, que atraíam milhares de turistas de todo o mundo, os desfiles de carros floridos representavam o ponto alto da festa portuguesa. Já na Itália, o carnaval remonta a 1873, embora somente em 1925 viesse a adquirir o caráter satírico atual, com os carros alegóricos ostentando máscaras e caricaturas das figuras mais conhecidas da Europa. Na França, por sua vez, o mais famoso dos carnavais do país ainda é o de Nice, criado há mais de 100 anos.
De acordo com indicações de alguns estudiosos do assunto, o carnaval na Alemanha nasceu na Baviera, com um ritual para espantar, na primavera, os demônios do inverno. Com essa finalidade, os participantes usavam máscaras assustadoras e dançavam. Mais tarde, as celebrações da primavera tomaram o nome de Fastnach e espalharam-se por todo o país. O primeiro príncipe do Fastnach, equivalente ao Rei Momo no Brasil, só foi coroado em 1832, na cidade de Colônia
Durante muitos anos Paris, Roma, Milão, Florença, Munique, Colônia e Veneza foram as cidades européias onde as festas de carnaval eram realizadas com maior pompa e esplendor. Sobretudo em Veneza, tiveram destaque desde os tempos mais remotos o extremo luxo e a riqueza das fantasias mascaradas, que serviram de base para muitas histórias de crimes, vinganças e conspirações ocorridos naquela cidade italiana, aproveitando a absoluta falta de controle dos foliões durante o reinado de Momo.
Em 1948, um famoso escritor estrangeiro dizia que o carnaval de Veneza suplantava em beleza, em épocas passadas, as festas que se realizavam na Riviera francesa. Visitantes de todas as partes da Europa visitavam a cidade italiana para participar da folia, apesar das dificuldades de comunicação. Os bailes a fantasia em teatros e praças públicos serviam de pretexto para as mais inusitadas aventuras e transformavam as principais figuras da cidade em motivo de gracejo e brinquedo durante toda a semana, repetindo-se sem cessar, noite e dia.