Liga Árabe rejeita guerra, mas conclama Iraque à cooperação

01/03/2003 - 17h04

Brasília, 1/3/2003 (Agência Brasil - ABr/CNN) - Reunidos no Egito, os líderes dos países que integram a Liga Árabe divulgaram, neste sábado, um comunicado em termos fortes contra uma possível guerra no Iraque, mas também conclamaram o presidente Saddam Hussein a obedecer plenamente a todas as resoluções das Nações Unidas.

A declaração final da cúpula traz outros dois pedidos: que uma delegação de alto nível, chefiada por Barein, visite Bagdad e que todos os membros do Conselho de Segurança da ONU divulguem a mensagem dos países árabes. Os governantes defenderam, ainda, a extensão do prazo para o trabalho dos inspetores de armas da ONU no Iraque e pronunciaram-se contra a adoção de qualquer ação militar alheia à aprovação do Conselho de Segurança.

A declaração só não reiterou um comunicado divulgado no mês passado pelos chanceleres da Liga Árabe, que condenavam as nações árabes que abrigavam bases militares norte-americanas e, assim, "estavam facilitando" uma guerra.

Convocada com o objetivo de mostrar a coesão do mundo árabe em relação à nova crise no Golfo Pérsico, a reunião de cúpula por pouco não se transformou em uma briga generalizada em seu começo. O presidente da Líbia, Moammar Gadhafi, atribuiu os problemas do Oriente Médio à presença de tropas norte-americanas na região e depois culpou Arábia Saudita, Kuwait e outros por terem envolvido Washington na Guerra do Golfo, há 12 anos.

O príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Abdullah, não gostou, revidou e acabou abandonando a reunião, no que foi acompanhado pelas delegações do Iraque e da Síria. "O reino da Arábia Saudita não é um representante do imperialismo", disse Abdullah, apontando o dedo para Gadhafi. "Não tente impor sua opinião neste conflito se você não está ciente dos fatos".

O incidente foi contornado após o ministro do Exterior líbio procurar Abdullah e as duas delegações para explicar melhor a posição de Gadhafi e garantir que o presidente não teve nenhuma intenção de ofendê-los. A emissora de televisão egípcia que mostrava a reunião ao vivo suspendeu temporariamente a transmissão.

Ao início dos debates sobre o Iraque, o presidente sírio, Bashar Assad, fez um pronunciamento especialmente forte, dizendo que a situação no país de Saddam Hussein está vinculada ao colonialismo. A delegação dos Emirados Árabes Unidos causou rebuliço ao apresentar uma proposta por escrito, pedindo que Saddam Hussein renuncie e passe a viver no exílio.

A proposta previa que Saddam deixe o Iraque 14 dias após eventualmente aceitar o exílio e determinava que a Liga Árabe administre o país do Golfo Pérsico até sua transição para o povo ser concluída. O presidente dos Emirados Árabes Unidos, xeque Zayed Bin Sultan al-Nahyan, apresentou a proposta, que também pede anistia para todos os iraquianos ligados ao regime de Saddam Hussein.

"A Liga Árabe, em cooperação com o secretário-geral da ONU, deverá supervisionar a situação no Iraque por um período interino, durante o qual todas as medidas necessárias para normalizar a situação serão tomadas, de acordo com a vontade do povo irmão do Iraque", dizia o documento entregue por al-Nahyan. A proposta não entrou em discussão, mas os participantes da Liga Árabe apelaram a Saddam para que cumpra suas obrigações com a ONU.

O ministro do Exterior saudita, príncipe Saud Al Faisal, disse que o Iraque precisa cooperar prontamente com os inspetores da ONU. "O Iraque tem que fazer o que estão lhe pedindo, e rápido", declarou Faisal. "Se eles têm armas de destruição em massa, que as mostrem. Se não têm, que dêem conta delas. É o que eles devem fazer". Faisal também alertou que, no caso de haver um conflito militar, uma ocupação do Iraque por tropas norte-americanas só levaria ao caos.

"Ocupar o Iraque não é simples", ressaltou. "Como é que 250 mil soldados vão manter a ordem em um país como este? Se a guerra levar à instabilidade que achamos que levará, levará também ao caos. Se a ordem social for rompida, quem lutará contra quem? Será uma bagunça".

"Detestaríamos ver os soldados norte-americanos pagando o preço por uma ocupação que não levará a nada, mas apenas a conseqüências terríveis para todo mundo", concluiu.

Também presente à reunião, o ministro do Exterior do Iraque, Naji Sabri, exigiu a renúncia do presidente norte-americano George W. Bush. "Acho que ele deveria renunciar porque ele é um ditador", afirmou. "E um déspota não responde à opinião de milhões de pessoas. Ele está levando o mundo inteiro e todo o seu país para o perigo. Ele tem que renunciar".

As informações são da CNN.