Extrativistas se dizem mais fortes e unidos para denunciar desmatamento ilegal depois da morte de companheiros

25/05/2011 - 19h00

Pedro Peduzzi
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Amigo próximo do casal de extrativistas assassinados ontem (24) no Pará, o diretor do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), Atanagildo Matos, disse ter certeza de que as mortes de Maria do Espírito Santo e João Cláudio Ribeiro da Silva foram encomendadas para tentar prejudicar as comunidades que vêm denunciando o desmatamento ilegal, promovido por madeireiros da região.

Ele advertiu que, no entanto, o tiro saiu pela culatra. “Agora estamos mais fortes e unidos para defender a floresta”. “Ainda não sabemos exatamente quem foi o mandante porque as denúncias feitas por João atingiam diversos grupos e interesses. Mas tenho certeza de que essas mortes foram encomendadas”, disse Matos à Agência Brasil. Segundo ele, o assassinato do casal deixou a comunidade muito abatida, porém fortalecida.

“A morte deles deixou o movimento mais indignado e vamos buscar forças nessa indignação para pressionar o governo a respeitar nosso pedido e a população das florestas. Perdemos um casal muito atuante e digno. Que trabalhava e era querido pela comunidade. Mas, assim como as árvores que eles defendiam, eles também deixaram sementes. Precisamos continuar nossa luta. Agora vamos nos juntar para avaliar a situação e continuar nossa missão”, acrescentou o diretor do CNS.

Junto com o casal, Matos desenvolvia o Plano de Manejo Florestal de Uso Múltiplo, um projeto de sustentabilidade que atinge diversas localidades da Amazônia. “É uma experiência de uso lucrativo da floresta, mas sem derrubar nem queimar árvores”, explicou.

A entidade defende políticas dirigidas ao pequeno, médio e grande produtor. “A responsabilidade pelas florestas tem de ser de todos”, afirmou o ativista, que cobrou a prisão de todos que cometerem crimes ambientais. “Não se pode mais continuar essa política destruidora e devastadora”, disse Matos, que está no movimento desde 1978.

“Foi uma triste coincidência o assassinato deles ter sido cometido em uma data tão próxima à aprovação do Código Florestal, com essas emendas que anistiam criminosos e que delegam a municípios e estados a definição das áreas de proteção”, desabafou.

Na comunidade onde viviam Maria do Espírito Santo e João Cláudio Ribeiro da Silva, há cerca de 250 famílias ocupando uma área de 36 mil hectares. Amanhã (26), ocorrerá o sepultamento dos dois seringueiros.

Edição: Lana Cristina