Monica Yanakiew
Correspondente da Agência Brasil/EBC
Santiago – Um grupo de estudantes ocupou nesta tarde (17) o comando de campanha da socialista Michelle Bachelet – a favorita, segundo as pesquisas oficiais, entre os nove candidatos às eleições presidenciais que se realizam hoje. A ocupação ocorreu enquanto muitos dos 12 milhões de chilenos em idade de votar estavam indo às urnas. Foi o primeiro sinal de que o próximo governo, qualquer que seja o vencedor do pleito, enfrentará muitas demandas sociais.
“Queremos uma verdadeira reforma no sistema de educação e não pequenas mudanças”, disse a presidenta da Federação de Estudantes da Universidade do Chile, Melissa Sepulveda, uma das líderes do movimento estudantil. “O movimento estudantil radicalizou-se por falta de avanços”, disse.
O movimento estudantil começou no governo de Michelle Bachelet (2006-2010), quando os alunos de ensino médio se organizaram para pedir transporte público gratuito. No Chile, o ensino foi privatizado na ditadura militar. O governo prefere subsidiar escolas secundárias privadas, que, por sua vez, cobram menos dos seus alunos, do que investir mais na educação pública. Já as universidades são todas pagas. Quem não tem dinheiro pode pedir empréstimos, mas, quando se forma, já tem uma dívida que pode demorar mais de dez anos para ser paga.
Por isso, os universitários somaram-se aos estudantes de ensino médio, em 2011, durante o governo de direita do atual presidente, Sebastian Piñera, e paralisaram o país exigindo educação gratuita e de qualidade para todos. Piñera reduziu os juros dos créditos estudantis, mas não cedeu a todas as exigências. Agora, Bachelet disputa um segundo mandato e todas as pesquisas de opinião indicam que ela ganhará – possivelmente no primeiro turno.
Mas, antes mesmo das urnas fecharem, o que ocorrerá às 19h de Brasília (18h em Santiago), os estudantes ocuparam o centro de comando da campanha de Michelle Bachelet, para demonstrar que vão continuar protestando – mesmo se o novo governo for de esquerda e tiver o apoio de ex-líderes estudantis. Dois líderes estudantis que convocaram os protestos de 2011 e 2012 – Camilla Vallejos e Giorgio Jackson - são candidatos ao Congresso pela aliança de partidos de centro-esquerda que apoia Bachelet. Os chilenos estão escolhendo hoje o presidente, os deputados e senadores.
O problema, no Chile, é que o presidente tem pouca margem de manobra a não ser que consiga mudar a Constituição, herdada da ditadura de Augusto Pinochet. Pelo atual sistema eleitoral, o chefe de Estado só tem maioria no Congresso se seus candidatos dobrarem o número de votos do adversário. Caso contrário, tem que ceder vagas ao segundo colocado – ou seja, a disputa parlamentar termina em empate e qualquer mudança só pode ser feita por meio de uma negociação.
Edição: Lana Cristina
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