Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Estudantes da Universidade de São Paulo do Campus Ermelino Matarazzo (conhecido como USP Leste) em greve ocupam desde a noite de ontem (3) o prédio da administração da unidade. Eles cobram uma solução para o problema de contaminação do solo local, que concentra gás metano proveniente do descarte do desassoreamento do Rio Tietê.
Os alunos também reivindicam a instalação de uma estatuinte para discutir o afastamento da direção do campus. Professores e servidores também paralisaram as atividades desde o dia 10 de setembro. A estatuinte é o processo de produção do estatuto de uma universidade com a participação da comunidade acadêmica. Os estudantes querem alterar o documento para permitir a destituição dos dirigentes.
"A questão da contaminação foi o estopim, mas existe um acúmulo de desgaste com essa direção", justificou uma das estudantes, que não quis se identificar. A assessoria de imprensa da USP Leste informou que a diretoria não irá se pronunciar sobre a questão. De acordo com os estudantes, há consenso entre a comunidade acadêmica, que inclui professores e servidores, de não reconhecer a atual diretoria.
Os alunos explicaram que a ocupação do prédio ocorreu porque o diretor em exercício, Edson Leite, convocou uma reunião com coordenadores de pós-graduação. "Não achamos legítimo ele convocar essa reunião, já que a comunidade acadêmica não o reconhece no cargo", justificaram.
Segundo os estudantes, uma reunião com uma comissão de grevistas estava marcada para hoje à tarde, mas foi cancelada com a justificativa de que não haveria clima político para o encontro. Os estudantes disseram que a continuidade da ocupação é avaliada periodicamente em reuniões, mas não há previsão de encerrá-la.
A professora de ciências da natureza e gestão ambiental Adriana Tufaile, que integra a diretoria da Associação dos Docentes da USP (Adusp), informou que, depois de deflagrada a greve, houve avanço no acesso às informações sobre o caso de contaminação do terreno. "Nós tínhamos uma pequena noção do problema, mas não tínhamos informações suficiente. A gente já conseguiu a maioria e vimos que a situação é grave. Há risco", informou.
A professora disse que os dados foram conseguidos no Ministério Público, na Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) e em uma sindicância da universidade. Ela reclama da demora para uma solução efetiva da questão. "Com medidas paliativas, talvez seja possível permanecer no prédio, mas a USP precisa se comprometer. A universidade vem fazendo algumas coisas, mas de forma muito vagarosa", critica.
De acordo com Adriana Tufaile, a Cetesb faz as exigências necessárias, mas a USP pede extensão de prazo. "As coisas vão se alongando. Agora, com esse movimento, a gente espera que as coisas caminhem mais rapidamente", declarou.
A USP Leste obteve licença ambiental de operação em novembro do ano passado, mas a universidade deveria fazer adequações. No dia 2 de agosto, a unidade foi autuada pela Cetesb por descumprimento de 11 exigências. Uma delas trata justamente do sistema de extração de gases do subsolo. Segundo o auto de infração, a presença do gás metano torna o solo “impróprio, nocivo ou ofensivo à saúde”.
Procurada pela Agência Brasil, pela manhã, a Cetesb se pronunciou somente à tarde, informando que vai programar uma vistoria, ainda sem data definida, para avaliar a situação da área e verificar se a instituição atendeu às exigências do órgão. De acordo com a Cetesb, a USP tinha 60 dias para resolver a situação, prazo encerrado hoje.
A assessoria de imprensa da universidade informou que aguarda uma posição da Superintendência de Espaço Físico da USP, que é o órgão interno responsável por fazer as mudanças exigidas pela Cetesb e negociar prazos. Passados 60 dias da notificação da companhia, no entanto, não houve instalação do sistema de extração de gás, assim como não foi retirado nenhum de solo da área.
Edição: Davi Oliveira // Atualizada com informações da Cetesb divulgadas à tarde, incluídas no penúltimo parágrafo
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