Akemi Nitahara
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Já está disponível para consulta o acervo virtual de 420 mil imagens em alta resolução, além de dados de amostras de plantas brasileiras levadas para o exterior por cientistas e naturalistas que estudaram a flora brasileira nos séculos 18 e 19 do site Plantas do Brasil: Resgate Histórico e Herbário Virtual para o Conhecimento e Conservação da Flora Brasileira (Reflora). O Reflora foi lançado hoje (30).
O trabalho é uma iniciativa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com execução do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), em parceria com o Kew Royal Botanic Gardens, no Reino Unido, e o Muséum National d'Histoire Naturelle de Paris.
A presidenta do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Samyra Crespo, explica que, além de facilitar o trabalho de pesquisadores, que terão acesso irrestrito ao material, o Reflora também contribui para a catalogação das plantas do país, prevista para estar terminada em 2020, como determina a Convenção da Diversidade Biológica (CDB), tratado da Organização das Nações Unidas (ONU) estabelecido durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento feita no Rio de Janeiro em 1992, a Eco 92.
“Não só porque o Reflora é um produto do Jardim Botânico com seus parceiros e que mostra a capacidade que nós temos hoje de ajudar o Brasil e cumprir as suas metas na Convenção da Diversidade Biológica, mas ele consolida uma identidade institucional, que é a de ser um instituto de pesquisa que deseja ser protagonista na conservação da biodiversidade brasileira e internacional e cada vez mais cumprir o seu papel de estar com relevância na comunidade científica internacional”.
A coordenadora do Projeto Reflora, Rafaela Campostrini Forzza, explica que o Kew Royal Botanic Gardens e o Muséum National d'Histoire Naturelle de Paris foram escolhidos para as primeiras parcerias por terem as maiores coleções brasileiras e também por terem afinidade histórica com o Jardim Botânico. Ela diz que o trabalho começou em 2010, com o objetivo de repatriar amostras depositadas em herbários europeus.
“Na época em que os naturalistas passavam pelo Brasil, a gente não tinha museus aqui com capacidade de armazenar, então levaram para o único lugar onde existiam cientistas trabalhando e catalogando a flora do Novo Mundo. Agora o que a gente está fazendo é repatriando as imagens desses espécimes de volta para o Brasil”.
De acordo com Rafaela, estão para ser firmados acordos com os herbários de Viena, Nova York e do Missouri. Os próximos a serem incluídos são os de Bruxelas e Munique, além de outros catálogos do Brasil. “Ter os espécimes ajuda a gente a saber o que falta descrever. É por comparação, você precisa ter à mão tudo o que já foi feito para saber o que falta. Nossos estudos têm mostrado que o Brasil tem a maior biodiversidade de plantas do mundo. O Reflora é um passo importante para catalogar todas, mas ainda tem muito serviço pela frente”.
O catálogo de plantas brasileiras tem cerca de 44 mil espécies e, de acordo com a pesquisadora, a estimativa é que faltem entrar entre 5 mil e 10 mil espécies novas de plantas com flores.
A representante do Kew Eimear Nic Lughadha explica que, desde 1998, a instituição estuda formas de fazer essa repatriação. Agora, com a parceria, finalmente o trabalho conseguiu atingir a escala necessária. “Primeiro, é nossa obrigação aumentar o acesso ao material que a gente tem, que a gente tentava fazer de várias maneiras em escala menor. Agora, com o Brasil, estamos tentando fazer de uma maneira mais apropriada à quantidade de biodiversidade que o Brasil tem, pois o Brasil tem entre 10% e 20% da biodiversidade do mundo”.
De acordo com ela, o herbário de Kew tem entre 250 mil e 400 mil amostras brasileiras. “Não dá para ter certeza, até o fim do ano vamos ter 80 mil já feitos, e temos duas vezes mais para fazer, ainda vamos demorar três anos. O material brasileiro está misturado, a organização não é geográfica, é por catálogo taxonômico. Temos que levantar o herbário inteiro”.
Para Eimear, a experiência também ajuda a atualizar o acervo da instituição, além de servir de modelo para outros projetos de compartilhamento do material de consulta.
Edição: Fábio Massalli
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