Marcelo Brandão
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O terceiro dia da mostra competitiva do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que começou na noite dessa sexta (20) e terminou após a meia-noite de hoje (21), foi uma verdadeira maratona. Nem todos foram até o final, em uma sexta-feira com três curtas e três longas-metragens no Cine Brasília. O diretor Sérgio Guerra brindou o público com seu documentário Hereros Angola. A câmera de Guerra transitou no meio de tribos de habitantes do sudoeste da Angola, mostrando seus costumes, rotinas e como alguns desses povos correm o risco de ver suas tradições virarem nada além de história.
O primeiro longa da noite mexeu com a plateia em vários momentos, como quando mostrou explicitamente cenas de circuncisão de meninos e abate de animais para consumo no dia a dia ou em celebrações. Para Juliana Barbosa, estudante, a presença de tais cenas no filme só o enriqueceu e expôs tarefas comuns às tribos retratadas. “Eu achei muito legal mostrar as cenas, é bem realista. O filme mostra que eles preservam muito a tradição deles, questionam o risco do contato com a civilização e vivem de verdade em pleno contato com a natureza”. O aposentado Marco Antônio se mostrou surpreso pelo que viu em Hereros Angola. “Foi uma experiência interessante, conhecer um povo da África. Foi uma surpresa muito grande, gostei muito”.
O segundo longa-metragem da noite, Avanti Popolo, do uruguaio Michael Wahrmann, teve uma grande audiência. Com a sala completamente lotada, pessoas sentaram no chão e nas escadarias e viram, além do filme de Wahrmann, o curta de animação Faroeste – Um Autêntico Western, que foi muito bem recebido, e o curta Au Revoir. Avanti Popolo retratou um homem que tenta resgatar lembranças de seu irmão e de seu pai, por meio de filmes de família antigos.
Em alguns momentos, o filme inundou o cinema de risadas, quando um dos protagonistas encontra personagens pitorescos, como um taxista aficionado por hinos nacionais, tendo, segundo o próprio, quase todos os hinos do mundo em seu carro, menos “dos países mais novos”.
Wahrmann, que participou com mais dois filmes no festival, Depois da Chuva e Amor, Plástico e Barulho, ambos na disputando categoria montagem, se mostrou contente por estar em Brasília e concorrendo com vários amigos, em um clima de amizade e parceria. “É incrível estar em Brasília, participar desse festival, talvez o maior que a gente tem no Brasil. É sempre emocionante, estar entre amigos, todos são próximos, com muita gente nova, da minha geração”.
Após problemas na exibição na quarta-feira, Os Pobres Diabos, de Rosemberg Cariry, foi apresentado ao público e ao juri, perto da meia-noite. Uma parte do público, no entanto, não ficou para ver a história de um circo muito simples que chega a uma cidade no sertão tentando sobreviver dia a dia, lutando contra a fome, a miséria, a falta de público e seus próprios conflitos, que em nada lembram a mística que envolve o artista no picadeiro.
“Se você olha um pouco, essa é a situação de 90% dos artistas, inclusive do cinema nacional. Você vê tanto filme bom sendo exibido aqui no festival e você se pergunta quantos vão chegar às telas. Parece um pouco com o retratado no filme”, analisa Cariry. Mesmo com os problemas enfrentados, o cineasta não desanima. “Pessoas que ficaram até o final vieram me abraçar depois, dizendo que valeu a pena ficar até quase duas horas da manhã pra ver um filme. Isso foi o que mais me emocionou”.
Edição: Fábio Massalli
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