Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Com financiamento da Agência Australiana para o Desenvolvimento Internacional (Ausaid), a Embrapa Agroindústria de Alimentos está coordenando, no Brasil, um projeto internacional que busca dar maior competitividade e sustentabilidade a pequenas queijarias, a partir do aproveitamento do soro de leite gerado pela produção de queijos. O projeto reúne pesquisadores do Brasil, da Colômbia, do Uruguai, da Argentina e da Austrália.
A primeira atividade do projeto foi um workshop, feito na semana passada em Buenos Aires, Argentina, no qual as instituições dos países participantes definiram o planejamento que será iniciado a partir deste mês.
No Brasil, será feito o levantamento da produção do soro para elaborar a modelagem da captação do produto, visando a definir onde serão instaladas unidades processadoras e o aproveitamento da capacidade ociosa de unidades já existentes. “Em paralelo, a gente vai estudar alternativas de agregação de valor”, disse hoje (2) à Agência Brasil o líder do projeto no Brasil, Amauri Rosenthal.
A proposta da Ausaid é incrementar a competitividade e sustentabilidade de comunidades rurais de baixa renda, com prioridade para a América do Sul. Por isso o projeto foi focado inicialmente no Brasil, Argentina, Uruguai e Colômbia, países que têm cadeias lácteas importantes e com diferentes níveis de organização.
Segundo Rosenthal, o soro de leite tem um elevado potencial de agregação de valor. Atualmente, o soro ou é jogado fora, causando danos ao meio ambiente, por ser altamente poluente, ou é destinado à alimentação animal. “O soro tem uma proteína de alto valor biológico, de elevada qualidade, que além de poder contribuir para a melhoria nutricional, tem a questão de agregação de valor e competitividade”, salientou.
O aproveitamento do soro do leite inclui desde a melhoria das rações animais, com a incorporação da proteína de valor biológico, até a elaboração de produtos como o queijo ricota e bebidas lácteas. Também são alterativas econômicas o aproveitamento do isolado proteico - conhecido como whey protein, muito usado por atletas em academias - até a incorporação do soro em outros produtos, como doces, explicou Rosenthal.
O coordenador disse que as alternativas serão definidas “de acordo com o volume de produção, com a capacidade de investimento e também levando em consideração os próprios custos do soro e a agregação de valor, ou seja, os preços dos produtos”. Outra aplicação que está sendo considerada é a utilização do soro de leite para a agroenergia. “Uma alternativa seria o biogás”, disse.
O modelo de tomada de decisão envolve estudos sobre alternativas de produtos, além da confecção de um manual de orientação às comunidades relativo às opções de produtos de soro de leite. O projeto prevê envolver as pequenas queijarias no processo e aproveitar o soro para a geração de renda adicional para essas unidades produtoras.
Rosenthal estimou que os investimentos poderão ser feitos via financiamento de fontes governamentais ou por meio de parcerias público-privadas (PPPs). Os pesquisadores pretendem ainda promover uma aproximação com grupos privados para disseminar o projeto.
Atualmente, o Brasil é um grande importador de soro de leite em pó, em especial da Argentina e do Uruguai, disse o pesquisador da Embrapa. Somente no ano passado, foram importadas 24 mil toneladas de soro em pó, segundo ele. Rosenthal acredita que o projeto em curso poderá não só permitir ao Brasil ser autossuficiente no produto, como criar fontes de agregação de valor para os pequenos produtores, tendo em vista a demanda crescente pelo soro de leito no mercado mundial.
A atuação inicial será nas regiões Sudeste e Sul, e a expectativa é começar o mapeamento da produção desse soro entre outubro e novembro próximos, com perspectiva de ter um panorama dos dados referentes a Minas Gerais até fevereiro de 2014, para apresentação no workshop programado para março do ano que vem, na Austrália. Simultaneamente, será efetuado o levantamento de uma região fluminense.
O projeto tem duração prevista de um ano e meio, com chance de ser estendido para dois anos. Além da Embrapa Agroindústria de Alimentos, sediada no Rio de Janeiro, participam da equipe do Brasil pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e de outras duas unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa): a Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora (MG), e a Embrapa Clima Temperado, de Pelotas (RS) .
Edição: Davi Oliveira
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