Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A mineradora Anglo American assegurou que o acidente com seu terminal portuário de Santana (AP) não aconteceu por negligência, ao contrário do que concluiu o Departamento de Criminalística da Polícia Técnico-Científica do Amapá (Politec) em um laudo a que a Agência Brasil teve acesso no último dia 9.
“A Anglo American descarta qualquer alegação de negligência, uma vez que as atividades no porto e na área de estoque de minério de ferro sempre seguiram o limite de capacidade definido pelo projeto do porto, devidamente aprovado pelas autoridades”, sustenta a empresa em nota enviada hoje (14) à Agência Brasil.
A própria empresa, no entanto, admite que o acidente, que matou quatro trabalhadores e deixou mais dois desaparecidos, foi causado por uma série de fatores, entre eles “aspectos geotécnicos”. “Renomados experts estão conduzindo uma investigação técnica independente e detalhada […] O relatório dessa investigação indica que o incidente do dia 28 de março não foi causado por fatores operacionais, mas [sim] por uma combinação de fatores imprevisíveis, incluindo aspectos geotécnicos”.
Em seu laudo, os peritos da Politec que inspecionaram o local do acidente apontam que o deslizamento de parte do terreno onde a Anglo American armazena milhares de toneladas de minério de ferro foi causado por uma série de fatores, como a sobrecarga de operações de transporte e embarque de minérios e o estoque de um grande volume de material próximo à margem do Rio Amazonas.
Os peritos também dizem que, até a conclusão do laudo, a empresa não havia entregue as cópias dos projetos da obra portuária, da licença de construção, dos exames de ensaio de resistência do solo e nem documentos ou registros comprovando que os estudos prévios do solo, como testes de sondagens e de pesquisas geológicas tenham sido feitos.
A Anglo American garante estar colaborando com as autoridades responsáveis por apurar as causas do acidente e que “mais estudos e sondagens estão sendo feitos para fornecer informações adicionais à investigação”. A mineradora informa que só nesta segunda-feira (12) recebeu uma cópia do laudo e que o está analisando cuidadosamente.
O acidente aconteceu na madrugada de 28 de março. A principal causa, segundo os peritos da Politec, foi a ausência de estruturas de contenção adequadas na margem do terminal portuário. Segundo os peritos, essas estruturas serviriam para reforçar a estabilidade do solo e o talude construído pela empresa. O talude é uma espécie de contenção inclinada feita no próprio terreno. No acidente, foi o talude, cuja altura variava entre 20 metros e 40 metros, que desmoronou.
Com o deslizamento, não só a terra, mas parte da montanha de minério armazenado no topo do talude, atingiu caminhões, guindastes, parte do escritório da empresa e arrastou para o fundo do Rio Amazonas seis trabalhadores que carregavam uma embarcação com destino à China. De acordo com o laudo, o pátio de estocagem tinha capacidade para armazenar 288 mil toneladas de minério. O impacto da queda do material na água gerou uma onda que atingiu o píer e embarcações.
Edição: Fábio Massalli
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