Pedro Peduzzi
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A forma como a mídia internacional abordou a recusa de países europeus em autorizar sobrevoo e aterrissagem do avião do presidente Evo Morales – por suspeitarem de que a aeronave transportava o ex-consultor norte-americano Edward Snowden – reforçou a necessidade de a América Latina ter um portal conjunto de notícias produzidas por agências públicas da região.
Um manifesto conjunto, assinado por representantes de diversas agências públicas de notícias latino-americanas, usa o caso para ilustrar a importância do portal que está sendo desenvolvido pela União Latino-Americana de Agências de Notícias (Ulan).
No dia 2 de julho, França, Espanha, Itália e Portugal não autorizaram sobrevoo e aterrissagem do avião de Morales, quando regressava de Moscou. A aeronave ficou detida por 14 horas em Viena com a suposição divulgada por vários meios de que estava a bordo o ex-funcionário de empresa que prestava serviços à Agência Nacional de Segurança (NSA). Snowden é acusado de espionagem pelo governo dos Estados Unidos.
Uma versão beta do portal (fase de desenvolvimento e testes) anunciado pela Ulan estará no ar a partir de setembro. A previsão é que até dezembro o site já esteja funcionando normalmente, em português, inglês e espanhol. A programação e o desenho do portal foram apresentados hoje (3) na 4ª Reunião do Conselho Executivo da Ulan, na sede da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), em Brasília.
“Será uma alternativa para quem busca informações sobre fatos ocorridos na América Latina, com noticiário produzido pelos próprios países latino-americanos. Atualmente somos apresentados por meio de outros olhares, e a forma como o caso [do Evo Morales] foi tratado demonstra a visão preconceituosa que as agências de notícias internacionais têm da América Latina. E isso não se pode aceitar”, disse o presidente da EBC, Nelson Breve.
A expectativa da Ulan é que o novo portal registre milhares de acessos já nos primeiros dias de funcionamento, segundo o presidente da entidade, Santigo Aragón. “Será uma mídia alternativa muito forte. Estimamos que, na fase inicial, tenhamos pelo menos 1 milhão de acessos diários, e que esse número cresça ainda mais.”
Inicialmente o conteúdo apresentado será basicamente de imagens e de textos, mas nas etapas posteriores o portal contará com material multimídia. A exemplo do conteúdo veiculado por agências públicas de notícias, a reprodução dos textos será gratuita, mediante crédito às agências originárias da informação.
“Nosso objetivo é informar e promover a integração regional, atentos a temas e agendas importantes para cada país, mas sempre deixando claro que se trata de um portal de notícias, e não de governos”, ressalta Aragón.
Nelson Breve acrescentou que o novo portal permitirá à opinião pública mundial acesso a mais informações. Essa proposta, segundo ele, “vai exatamente ao encontro da missão da EBC, de criar conteúdo para formação crítica das pessoas”.
A parceria envolvendo as agências públicas latino-americanas resultará também no intercâmbio de profissionais e em capacitações conjuntas de pessoal. Na reunião da Assembleia Geral da Ulan, prevista para janeiro em Cuba, o projeto será consolidado, com a definição do modelo de financiamento e do conselho editorial do novo site.
Edição: Talita Cavalcante
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