Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Dona do píer flutuante atingido por um desmoronamento de terra em 28 de março deste ano, que fica perto do Porto de Santana, a cerca de 20 quilômetros de Macapá, a mineradora Anglo American garante que o volume de minério de ferro armazenado no local era inferior à capacidade de estocagem autorizada pelos órgãos responsáveis a partir do projeto apresentado pela empresa.
Na madrugada do dia 28 de março, parte do terreno onde a empresa multinacional armazena toneladas do minério deslizou, causando a morte de quatro trabalhadores. Mais dois empregados continuam desaparecidos. O material caiu sobre o píer flutuante onde atracavam os navios que levam o minério para o exterior. Os entulhos atingiram caminhões, guindastes, parte do escritório da empresa e arrastaram para o fundo do Rio Amazonas seis trabalhadores que carregavam uma embarcação com destino a China.
Questionado pela reportagem sobre a possibilidade do volume de minério armazenado ter provocado o deslizamento do talude (espécie de barreira de contenção inclinada de cerca de 7 metros de altura, feita no próprio terreno) e da montanha de quase 8 metros de altura de minério de ferro, a Anglo American informou à Agência Brasil que cumpre rigorosamente as normas e condições de seguranças exigidas, zelando pela integridade dos empregados. E que apresentou os estudos geotécnicos solicitados por todos os órgãos responsáveis por autorizar suas operações, bem como, agora, às autoridades que investigam o acidente.
Em um relatório concluído esta semana, o auditor fiscal do trabalho, Franklin Rabelo, deslocado do Ceará para analisar o caso, aponta que a empresa não fez um estudo geotécnico para comprovar se a área onde vinha armazenando o minério era adequada. No relatório, o auditor aponta que a mineradora tem um laudo sobre análise de risco elaborado em 2007. O problema é que, após a data, a companhia transferiu os estoques para mais perto da margem do rio a fim de facilitar o carregamento dos navios. Com isso, sustenta o auditor, novos estudos quanto à estabilidade do talude e da consistência do solo no novo ponto de armazenamento deveriam ter sido feitos.
O auditor do Ministério do Trabalho, órgão que determinou a interdição da área logo após o acidente, também descarta a hipótese de que uma grande onda tenha atingido a margem, virando embarcações e arrastando para o fundo do Rio Negro caminhões, guindastes, o escritório local da mineradora e seis trabalhadores.
A Anglo American criou uma comissão composta por especialistas independentes e da própria empresa para analisar o ocorrido e identificar as possíveis causas, mas o trabalho ainda não foi concluído.
Em entrevista à Agência Brasil, o delegado da Polícia Civil do Amapá, José Rodrigues Neto, responsável pelo inquérito, informou que, esta semana, representantes da empresa apresentaram as conclusões preliminares da comissão criada pela Anglo American. O delegado, contudo, disse que o documento, mesmo que anexado ao inquérito, não tem valor legal.
Com boa parte do empreendimento interditado, a empresa está impedida, por hora, de recuperar as instalações destruídas e normalizar suas atividades. A mineradora continua removendo os destroços do rio e tentando localizar sob os escombros os dois funcionários ainda desaparecidos - embora, oficialmente, as buscas tenham sido encerradas. Enquanto avalia as soluções para normalizar as operações, a empresa ampliou a capacidade de estocagem de minério em outros locais, como Pedra Branca do Amapari. A mineradora também garante que está estudando a área do acidente para entender o que ocorreu e, assim, "incorporar os aprendizados às soluções que estão sendo avaliadas".
A empresa garante que, junto com a companhia seguradora, já está em contato com os parentes das vítimas para encaminhar o pagamento de indenizações e demais benefícios trabalhistas. "Nosso foco principal tem sido o apoio aos familiares das vítimas e aos nossos colegas", diz a empresa na nota enviada à Agência Brasil.
Edição: Carolina Pimentel
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