Carolina Gonçalves*
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Em tom cuidadoso, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, alertou hoje (18) que os representantes do Poder Público precisam estar atentos às novas formas de manifestação popular que tem tomado conta do país nos últimos dias no país. Segundo ele, a adesão ampla e massiva da população em diversas capitais na tarde e noite de ontem comprova um “descontentamento geral”.
“Seria pretensão achar que a gente compreende o que está acontecendo. Temos que entender a complexidade do que está ocorrendo”, disse Carvalho ao destacar a existência de motivações variadas e de múltiplas lideranças no movimento que tomou as ruas de diversas cidades. Durante uma audiência pública na Comissão do Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle do Senado Federal, Gilberto Carvalho explicou que o governo está acostumado a lidar com manifestações organizadas em torno de carros de som, que têm uma liderança com quem negociar. Por isso, o atual processo é complexo e o governo precisa estabelecer uma nova forma de diálogo.
Ainda assim, Gilberto Carvalho reconheceu problemas, como o de mobilidade urbana, nas grandes cidades. O ministro citou, por exemplo, o caso da capital paulista onde, segundo ele, a frota de transporte coletivo é a mesma de dez anos, apesar de o número de usuários ser muito maior. Carvalho disse que o transporte é uma questão de responsabilidade dos estados e municípios e que o governo federal está dialogando com as administrações locais para tentar chegar a uma solução.
Segundo ele, o Executivo também está procurando identificar as críticas que devem ser solucionadas pela União que, a princípio, esbarram em questões éticas. O ministro disse que o Palácio do Planalto tem estimulado o fortalecimento de instituições de controle e investigação, como a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União. "Fazemos autocrítica sempre. A cada manifestação o governo abre o diálogo. O governo segue apoiado por uma ampla maioria e cumpre o plano de governo que foi vitorioso."
Carvalho acrescentou que, nas conversas com grupos de jovens, os manifestantes declararam que querem mais conquistas e inclusão.
“Os jovens diziam que o [Estádio Nacional] Mané Garrincha fica a poucos quilômetros do Hran [Hospital Regional da Asa Norte, unidade pública de Brasília] que está cheio de problemas. Se não formos sensíveis, vamos ficar na contramão da história”, alertou. “Estamos na emergência de vontade clara de participação variada. Nem nos nossos tempos colocamos 100 mil pessoas nas ruas como vimos ontem.”
O ministro lembrou que, no sábado, em Brasília, deixou de ver o jogo para tentar conversar com manifestantes e entender a pauta de manifestações. Ontem, ele se reuniu com grupos menores de jovens para dar continuidade aos diálogos. “São novas formas de organização e mobilização que nós, da geração de 1970 e 1980, não conhecíamos. As redes sociais, a vontade de participação que sai do Facebook para a prática, traz um novo repertório”, disse.
Na avaliação de Carvalho, a multiplicidade de grupos se expressou claramente no comportamento dos manifestantes. Segundo ele, ficou evidente que a grande maioria se expressou pacificamente, mas que um grupo menor de manifestantes extrapolou em São Paulo, Brasília e no Rio de Janeiro. “Nós, em contato com governadores, falamos que aquele era o limite. Não se permite a entrada no Congresso Nacional ou no Palácio dos Bandeirantes”, explicou, destacando que assim como é lícita a manifestação da população nas ruas, é lícita a atuação da polícia na proteção de prédios públicos.
Para Gilberto Carvalho, desde as primeiras manifestações, a polícia teve comportamentos diferenciados. “Primeiro foi tolerante. Num segundo momento, houve excesso e ontem, foi tolerante. Em São Paulo, a polícia foi exemplar ontem, assim como em Brasília, onde, no sábado, detectamos o uso de balas de borracha, mas teve intervenção do governador e ontem o processo foi conduzido de maneira adequada”, avaliou.
* A matéria foi ampliada às 10h58 // Edição: Lílian Beraldo
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