Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O Rio de Janeiro corre o risco de repetir o fenômeno observado durante as Olimpíadas de Londres, em que os altos preços dos hotéis acabaram prejudicando os setores hoteleiro e de alimentação, com reflexos sobre a indústria do turismo em geral. O alerta foi feito hoje (28) pelo professor de varejo da Fundação Getulio Vargas (FGV) Daniel Plá. “Os preços subiram de tal forma que teve menos turistas em Londres durante as Olimpíadas do que em período normal”, comentou.
Em entrevista à Agência Brasil, o economista disse que, além dos preços elevados das diárias hoteleiras, prejudicam a indústria do turismo questões como o custo elevado das passagens aéreas e dos restaurantes, o real valorizado e a falta de estímulos financeiros e fiscais.
Daniel Plá salientou que esses fatores inibem investimentos na área de hotelaria, que pode ser favorecida pelos grandes eventos, além do carnaval e do réveillon, e que apresenta uma média de empregos acima de 80%. “Faltam estímulos financeiros e fiscais até para atrair investimentos de fora do país. Isso é fundamental para que os preços caiam. Os preços só vão cair na hora que você tiver estímulos, que o capital de fora venha para cá”, manifestou.
Segundo o professor, os preços dos hotéis do Rio de Janeiro estão entre os três mais altos do mundo. A Pesquisa Internacional de Preços da Hotelaria (PPH), do Instituto Brasileiro do Turismo (Embratur), indica uma média de diária na capital fluminense de US$ 246,71, superada apenas por Miami (US$ 293,57), nos Estados Unidos, e Punta Cana (US$ 278,90), na República Dominicana. De acordo com a pesquisa, os preços dos hotéis do Rio superam, inclusive, os de Nova York (US$ 245,82), nos Estados Unidos; Paris (US$ 196,17), na França; e Cancún (US$ 193,89), no México.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro (Abih-RJ), Alfredo Lopes, informou à Agência Brasil que, em um pacote turístico que inclui hotel e passagem aérea, as diárias dos hotéis correspondem a 20% do valor total. “A hotelaria é um produto de exportação brasileiro, está caro porque o dólar está desequilibrado”. Ele observou que, em relação aos países europeus, que estão em crise econômica, o turismo no Brasil está muito caro.
Outro problema para o desenvolvimento do setor hoteleiro é a falta de terrenos disponíveis na orla para construção de empreendimentos, na faixa que se estende de Copacabana até o Leblon. Esse é o local preferido para hospedagem pela maioria dos turistas que visitam o Rio, disse o professor. “O turista com maior poder aquisitivo quer ficar, geralmente, na orla. A falta de imóveis para construção é também um desestímulo ao investimento em novos hotéis”. Mantido esse cenário, Daniel Plá avaliou que a tendência é prejuízo para a cidade.
Ele argumentou que a linha de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o setor hoteleiro, que é o Programa BNDES de Turismo para a Copa do Mundo de 2014 (BNDES ProCopa), não atende às empresas de pequeno porte que, em sua maioria, não têm como cumprir as exigências do banco. Conforme avaliou, cabe aos governos municipal e federal criar incentivos para facilitar a construção de hotéis na cidade. “Hotel gera um movimento indireto, fabuloso, para a indústria de turismo. Traz divisas para o país e gera empregos de qualidade”. Lembrou que a Espanha, nos últimos 40 anos, investiu pesado na sua indústria turística, com estímulos fiscais.
Daniel Plá disse que a prefeitura do Rio de Janeiro já apresentou estímulos fiscais nesse sentido, mas não foram suficientes, porque se estenderam por um período curto de tempo. “O setor quer segurança jurídica em prazos que ultrapassam 20 anos”. Ele aposta que, se houver essa segurança jurídica, “nós vamos ter muitas empresas do exterior investindo pesado no setor”.
O presidente da Abih-RJ discordou. Segundo ele, a prefeitura do Rio fez um pacote de incentivos com redução de muitos tributos, o que permitiu à indústria hoteleira estar com 12 mil quartos em construção. Esse número deve chegar até 16 mil até as Olimpíadas. Já em nível federal, apesar da desoneração da folha de pagamentos, ele acredita que ainda tem muita coisa a ser feita. “O custo do Brasil é alto. A energia é cara”, citou. Alfredo Lopes ressaltou, entretanto, que a principal questão é que o setor hoje está carente de um programa de divulgação do país no exterior.
Em relação ao alto custo das passagens aéreas, Daniel Plá analisou que os preços só cairão quando o mercado for aberto. “Com o mercado fechado do jeito que está, você não resolve o problema”. A ideia, destacou, é tomar as iniciativas necessárias para que o Rio de Janeiro possa receber turistas o ano inteiro, e não apenas no carnaval e no réveillon.
Uma opção que começa a ganhar força, segundo o professor, é a hospedagem nas comunidades pacificadas. “Já tem muitas famílias hospedando turistas”. A Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 abrem, segundo ele, chance para essas pessoas obterem uma renda adicional e a atividade passar a ser constante, competindo de maneira saudável com a hotelaria tradicional. O professor informou que as diárias em uma favela variam de R$ 150 a R$ 250, enquanto em um estabelecimento de porte ela vale cerca de três vezes mais. Também os hostels, ou pequenas pousadas, constituem uma alternativa para os turistas de menor renda.
Edição: Juliana Andrade
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