Da Agência Brasil
Rio de Janeiro – As denúncias de abuso de poder durante uma operação da Polícia Militar, ontem (2), nas favelas da Nova Holanda e Parque União, no Complexo da Maré, na zona norte da capital fluminense, serão investigadas pela Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Hoje (3), a comissão se reuniu com o fotógrafo Ubirajara Carvalho e o professor Bruno Leite, que moram na Nova Holanda e tiveram, segundo eles, as casas invadidas pelos policiais militares.
Os dois moradores acusam os policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Batalhão de Choque de entrar em suas moradias sem apresentar mandado de busca, quebrar objetos e de uso de violência. Ubirajara e Bruno registraram a ocorrência no 22° Batalhão da Polícia Militar, situado na Maré, e prestaram queixa na Delegacia Policial do bairro de Bonsucesso. Técnicos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) fizeram nesta tarde perícias nas casas do professor e do fotógrafo. Um inquérito foi aberto pela Polícia Civil para apurar denúncias.
"Eu estava acompanhado de um colega que também é fotográfo na Maré, quando meu irmão me viu passando e disse: Bira vai para casa porque os policiais estão invadindo as casas. Ao chegar, encontrei minha câmera profissional no vaso sanitário, fogão derrubado e a chave do gás aberta. Eu me sinto envergonhado, indignado com essa situação”, disse Ubirajara Carvalho, que é cadeirante.
Bruno Leite, que é professor da rede municipal de ensino, declarou que foi ameaçado por um oficial do Batalhão de Choque, caso denunciasse a invasão domiciliar. Segundo ele, os policias fotografaram os documentos e pegaram uma quantia de dinheiro em libras, adquirido por ele com os estudos no exterior. “Estavam procurando um homem conhecido como Buda e sempre repetiam que eu estava nervoso porque eu o conhecia," declarou.
Para o presidente da comissão, deputado Marcelo Freixo, o caso não deve ficar impune. De acordo com ele, um relatório será encaminhado para a Corregedoria da Polícia Militar. O deputado disse que prestará assistência aos moradores contra as ações de violência em abordagens dos policiais militares. “Vamos mover uma ação contra o estado, porque a segurança é dever do estado. A comissão já acampanhou os registros. As denúncias devem ser feitas, investigadas e apuradas até o final”, ressaltou Freixo.
O coordenador do núcleo de Defesa de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado, Henrique Guelber, acredita que, a partir das denúncias, outros moradores vão também registrar os casos de violência. Segundo ele, O Complexo da Maré nunca apresentou um registro de denúncia contra abuso de autoridade de policiais. “Só no Caju, [após a ocupação das forças de segurança do estado] a Polícia Militar, que não tem o poder de investigar, prendeu dez homens por engano. Dentro da legislação, vamos impulsionar a investigação para que os culpados sejam responsabilizados," explicou.
A Polícia Militar informou que abriu inquérito para apurar as denúncias de abuso de poder durante uma operação do Bope e do Batalhão de Choque contra o tráfico de drogas na Maré. O caso está sendo investigado pela 1ª. Delegacia de Polícia Judiciária Militar.
Edição: Aécio Amado
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