Deputados alemães ouvem denúncias de moradores sobre poluição da Siderúrgica do Atlântico

11/04/2013 - 22h54

Cristina Indio do Brasil
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Quatro deputados alemães se reuniram hoje (11) com representantes de moradores e pescadores, residentes em localidades próximas à maior siderúrgica da América Latina, a empresa alemã Thyssen Krupp Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA). Os parlamentares fazem parte da Comissão para o Desenvolvimento Econômico e da Subcomissão de Saúde em Países em Desenvolvimento do Congresso da Alemanha.

A empresa, inaugurada em Santa Cruz, zona oeste do Rio, em 2010, é acusada pelos moradores, pescadores e pelo Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (Pacs), de poluir o ar da região e as águas da Baía de Sepetiba. "Eles falam que acabou, mas não acabou. De oito em oito dias a chuva de prata cai e é dentro da nossa casa", denunciou dona Celi, moradora há 57 anos no local.

Durante o encontro, os parlamentares ouviram diversos casos de problemas de saúde, que, segundo os moradores e pescadores, começaram a surgir depois da instalação da empresa no bairro.

Jorge Pellegrini mora a menos de 200 metros da empresa, no conjunto residencial Alvorada. Ele disse que tem uma doença nos olhos e não pode ter contato com poluentes em suspensão. "Nunca na região teve tanto problema de saúde como agora", declarou. Ele mora na região há 24 anos.

Para o pescador Jaci Nascimento, morador há 27 anos no conjunto habitacional Novo Mundo, além da questão da saúde, as atividades da empresa interferiram na pesca da região. "Só no Rio São Francisco com três horas de pesca eu saía com três caixas de peixe. Hoje pode passar o dia todo que não sai com 2 quilos de peixe e ainda contaminado. Tem muito peixe morto. E a gente? Não vai morrer também? ", indagou.

A economista do Pacs, Sandra Quintela, disse que desde a inauguração a empresa viola as legislações e até hoje não tem licença de operação. Além disso, ela informou que a TKCSA está em processo de venda e a preocupação, também, é com a possibilidade do passivo da companhia ficar sem solução. "Estamos sabendo da venda da empresa. Ela tem um passivo enorme, não só com financiamento público em empréstimos com BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], mas também de isenção fiscal no âmbito federal, estadual e municipal. É um passivo enorme que esta empresa quer deixar aqui no Brasil", disse.

No fim do encontro, o chefe da delegação alemã e presidente da Subcomissão de Saúde em Países em Desenvolvimento, Uwe Kekeritz, disse aos participantes que percebeu divergências entre as informações apresentadas pela empresa e pelos moradores e pescadores."As informações da imprensa na Alemanha dizem que há emissão de metais pesados, agora, a empresa em si, disse não", ressaltou. Os parlamentares pretendem também acessar os dados do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) para comprovar a veracidade das informações. Eles disseram que para a empresa 115 pescadores estão com processos na Justiça, enquanto que para os representantes da categoria o número é 2.511.

O deputado adiantou que vai levar as folhas das plantas com resíduos da poeira exibidas pelos moradores aos parlamentares para comprovar a poluição causada pela empresa. "Eu vou levar essas folhas para serem analisadas em laboratórios na Alemanha",disse.

Uwe Kekeritz ponderou, que como alemão, não pode interferir em questões de legislação brasileira dentro do país. "Se a empresa não fosse alemã, o governo brasileiro não permitiria que estivéssemos aqui. A firma é alemã e, por isso, viemos coletar as informações", disse.

Em entrevista à Agência Brasil, o deputado Uwe Kekeritz informou que será elaborado um relatório com as informações colhidas na empresa e dos moradores para apresentar na comissão. " Vamos confrontar as informações da ThyssenKrupp na Alemanha", explicou o parlamentar.

Nesta sexta-feira (12), às 10h, a delegação alemã visita a Fundação Oswaldo Cruz. Eles vão aproveitar a ida à Fiocruz para buscar mais informações sobre os estudos da fundação sobre os reflexos das atividades da TKCSA na saúde dos moradores de Santa Cruz.

 

Edição: Aécio Amado

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