Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Um novo atentando contra uma servidora da Área de Conservação Ambiental (APA) Cairuçu, em Paraty, sul fluminense, na madrugada de ontem (9), voltou a amedrontar os funcionários do Instituto Chico Mendes (ICM-Bio). Uma bomba caseira foi jogada na casa de uma analista ambiental, cujo nome não foi revelado. Ninguém ficou ferido. A Polícia Federal foi acionada e o Esquadrão Antibombas da Polícia Civil coletou o material para a perícia.
Um atentado havia ocorrido em julho do ano passado, quando o carro de outra servidora foi incendiado. Em 2008, a mesma analista teve outro veículo incendiado criminosamente. Foi retaliação contra o combate a crimes e irregularidades ambientais. A funcionária não aguentou as intimidações e deixou a unidade, responsável por proteger a maior concentração de remanescentes de Mata Atlântica da Serra do Mar.
O clima é de apreensão e insegurança entre os seis analistas da APA, além de três analistas do escritório do Parque Nacional. O chefe da APA Cairuçu, Eduardo Godoy, explicou que a região tem vários conflitos ocasionados pela ocupação irregular de solo, que se intensificaram com o fortalecimento dos órgãos ambientais a partir do ano 2000.
“As unidades de conservação estabeleceram restrições de uso de territórios de Paraty, que começaram a se consolidar a partir da década de 2000. A gente começou a fazer valer a lei e isso gera uma série de conflitos, mas às vezes descamba para a área da agressão, da intimidação e não queremos mais isso”, comentou ele.
Criada em 1983, APA Cairuçu é Unidade de Conservação Federal de Uso Sustentável, com pouco mais 33 mil hectares, que englobam 63 ilhas e áreas naturais de grande interesse turístico, onde são proibidas edificações.
“A legislação tornou as ilhas de Paraty em locais destinados apenas a preservação das biotas [conjunto de todos os seres vivos de uma região]. São áreas não edificantes, e a legislação não é respeitada. É um dos principais motivos de conflito na região. Há muitas ilhas com bares, restaurantes, pousadas. Buscamos um entendimento, mas dentro de um contexto de várias irregularidades e abusos, temos o poder de Polícia e então organizamos operações, embargamos [obras], multamos por essas atividades irregularidades”.
Frequentemente, os fiscais são vítimas de várias formas de intimidação, segundo Godoy, como ameaças e agressões verbais. Godoy contou que outra servidora sofreu ameaças e, por decisão judicial, os autores das ameaças estão proibidos de chegar a menos de mil metros da analista.
Segundo o coordenador regional do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Luiz Felipe de Luca, atentados não vão intimidar o trabalho do instituto, que tomará as medidas para encontrar os responsáveis pelos atentados.
“Estamos trabalhando com a Polícia Federal e com os órgãos responsáveis pelo controle e fiscalização para e tratar de estratégias de fortalecimento da gestão, porque, fortalecendo a gestão, conseguiremos inibir este tipo de atividade. Não podemos deixar isso acontecer, o atentado a um bem público, que é o meio ambiente, e nós somos responsáveis por garantir sua preservação”, comentou ele.
Gladys Regina Vieira Miranda, da Delegacia Federal de Angra dos Reis, responsável pelas investigações do atentado, informou que foi instaurado um inquérito. “Colhemos depoimentos, relatos e vamos buscar imagens de algum comércio próximo. Parece que a bomba foi arremessada no muro da casa, que o intuito não era ferir, apenas de assustar”, comentou a delegada. O prazo para conclusão das investigações é 30 dias.
Edição Beto Coura
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