Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Candido dos Santos Júnior era hipertenso. Foi no artesanato que ele encontrou, há um ano e meio, o remédio para a pressão alta. “Comecei a pintar caixinhas, fui me tranquilizando, me acalmando, o nível de estresse foi baixando. Isso aqui virou minha vitamina para relaxar e até ganhar um dinheiro extra”, disse Candido à Agência Brasil, enquanto fazia uma aula de scrapbook (recortes e colagens) na sétima edição da Rio Artes Manuais, aberta hoje (3), no Centro de Convenções Sul América, no Rio de Janeiro.
Outra artesã que aproveitou o evento para ampliar seus conhecimentos foi Ana Eloy. Ela mora em Santa Rita, no município de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e veio conhecer uma nova técnica de pintura, uma vez que já pinta sem pincel. “Temos que nos especializar em várias coisas. Ficar somente em uma coisa é engatinhar”, sustentou. Ana vende o artesanato que faz. “É uma renda adicional muito boa para mim. Faço fuxico, faço caixinhas, toalhas de lavabo, de rosto, de banho, toalha para criança”, manifestou.
A Rio Artes Manuais é a maior feira de capacitação em artesanato do estado do Rio de Janeiro e uma das maiores do país. A exposição é organizada pela empresa Caçula, do segmento de artesanato, aviamentos e papelaria, e conta com a parceria da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico (Sedeis) e da Secretaria Especial de Desenvolvimento Econômico Solidário da prefeitura carioca (Sedes). A feira reúne as maiores indústrias nacionais de artesanato, que promovem aulas gratuitas para os visitantes. Nesta edição, serão mais de 20 mil aulas de capacitação de todos os tipos de técnicas artesanais programadas até o encerramento, marcado para o próximo domingo (7).
A diretora de Economia Solidária e Comércio Justo da Sedes, Ana Asti, também vice-presidente da Organização Mundial de Comércio Justo (WFTO, do nome em inglês), disse à Agência Brasil que a melhor forma de gerar trabalho e renda é por meio da inclusão produtiva. “E esse evento é super importante por trazer o debate do artesanato como segmento de geração de emprego e renda por meio das mãos das pessoas, do trabalho artesanal das pessoas. A gente acredita muito nisso quando fala de economia solidária e de comércio justo”.
Acrescentou que feiras como a Rio Artes Manuais contribuem para a formação de uma identidade artesanal para o estado do Rio de Janeiro. Diferentemente da Bahia e de Minas Gerais, por exemplo, que são identificados pelo artesanato que produzem, “o Rio de Janeiro carece disso ainda”, acentuou. Segundo Ana Asti, o investimento feito pelos organizadores do evento para desenvolver essa identidade, dar capacitação e técnica aos artesãos e trazer inovação e qualidade para a área do artesanato “é fantástico: o estado e o município precisam investir nesse segmento”.
Por meio do Projeto Rio Ecosol (Rio Economia Solidária), da prefeitura do Rio de Janeiro, grupos de artesãos de comunidades carentes e outros que integram o Fórum de Economia Solidária são selecionados para participar da feira. Outros artistas são recrutados pelo Programa Rio de Janeiro Artesãos, do governo fluminense. “Então, a gente tem uma rede bem grande, organizada, que se encontra mensalmente para poder desenvolver esse segmento”.
Clarice Cavalcante é secretária executiva do Fórum de Economia Solidária do Rio de Janeiro e vice-presidente do grupo de mulheres trabalhadoras da favela da Maré (Devas), na zona norte do Rio, criado em 1998. Ela informou à Agência Brasil que a maioria dos artesãos que participam do Projeto Rio Ecosol e do Fórum de Economia Solidária já está qualificada. “O grande lance da capacitação é que a gente vai trabalhando a qualificação junto com a comercialização, dentro dos princípios da economia solidária”.
O Devas entrou no Sistema Nacional de Comércio Justo e Solidário e obteve a oitava classificação. Em maio próximo, o grupo vai participar da Semana Mundial de Comércio Justo, no Rio. “A gente vê o progresso do grupo, vê mulheres recebendo na Maré mais de R$ 2 mil por mês. Eu acho que o artesanato é a melhor possibilidade de geração de trabalho e renda, porque todas as pessoas, seja homem ou mulher, tem uma habilidade. Precisa só burilar”. Clarice acredita que se houver uma integração da sociedade com esse tipo de trabalhador, os grupos de artesãos tendem a crescer. “Tenho certeza absoluta que a via de acabar com a pobreza é arranjando trabalho para o povo”.
A Secretaria Especial de Desenvolvimento Econômico Solidário vem realizando desde 2010, em parceria com a Secretaria Nacional de Economia Solidária, um trabalho nas comunidades pacificadas do Rio de Janeiro. “Esse projeto trouxe capacitação, toda a parte de organização da comercialização, como fazer o comércio justo, como calcular o preço, como fazer um plano de negócios do empreendimento”, destacou Ana Asti.
O projeto começou nas comunidades da Cidade de Deus, Manguinhos, Alemão e Santa Marta e agora vai expandir para outras áreas da capital. Uma das comunidades que receberá este ano o projeto Rio Economia Solidária é a Maré. “A gente vai instalar ali o Ponto Solidário, que são espaços onde as trocas de informações, as formações e as organizações desses eventos de comercialização acontecem”.
Ana Asti destacou a parceria com o programa de Desenvolvimento Regional Sustentável do Banco do Brasil, também presente na feira, que incentiva a formalização dos artesãos. “Ali, elas (artesãs) têm acesso a um crédito muito mais barato. Têm acesso à famosa maquininha do cartão de crédito que faz diferença na hora da comercialização”. Outra parceria, lembrou, é com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-RJ), “que ajuda muito na parte do 'design' e desenvolvimento do produto”.
A subsecretária da Sedeis, Dulce Ângela Procópio, sublinhou a força do artesanato fluminense. “Já são quase seis mil artesãos cadastrados em nosso programa. A secretaria identifica feiras e exposições e trabalha em parceria para que os artesãos possam participar desses eventos, gerando oportunidades de negócios”, observou.
Edição: José Romildo
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