Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil
Brasília – Índios, colonos e ribeirinhos voltaram a ocupar na madrugada de hoje (21) um dos três canteiros de obra da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, estado do Pará. A última ocupação havia ocorreu há pouco mais de dois meses, na estrada de acesso ao mesmo local, conhecido como Sítio Pimentel, a cerca de 70 quilômetros da cidade de Altamira e onde trabalham aproximadamente 4,5 mil funcionários diretos e terceirizados.
Segundo o Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM), os manifestantes não passam de 60 pessoas, sendo apenas dez índios. Já a organização não governamental (ONG) Movimento Xingu Vivo para Sempre garante que cerca de 150 pessoas participaram da ocupação, incluindo índios de quatro etnias (Juruna, Xypaia, Kuruaia e Canela).
De acordo com a ONG, a ocupação é um protesto contra o que os manifestantes classificam como descumprimento das condicionantes exigidas da empresa Norte Energia e também com a falta de informações sobre os reais impactos do empreendimento. Gerentes e uma equipe técnica da Norte Energia estão no local, negociando a desocupação da área.
A Força Nacional enviou policiais ao local, mas, segundo a assessoria do Consórcio Construtor Belo Monte, não houve qualquer registro de tumulto ou violência, nem contra o patrimônio da empresa. A produção no canteiro de obras foi imediatamente interrompida por questão de segurança e os trabalhadores foram removidos da área onde os manifestantes estão concentrados. Dois canteiros de obra funcionam normalmente.
De acordo com o Xingu Vivo, os manifestantes chegaram ao canteiro de obras por volta das 4h. Após bloquear o acesso de veículos ao local, o grupo pediu a presença de um porta-voz da empresa a quem pudesse apresentar suas reivindicações. Como a exigência não foi imediatamente atendida, índios, colonos e ribeirinhos decidiram ocupar o canteiro e pedir aos trabalhadores que deixassem o local.
Entre os manifestantes, informa a ONG, há oito famílias indígenas da comunidade do Jericoá que dizem nunca ter recebido nenhum atendimento por parte da Fundação Nacional do Índio (Funai) e da Norte Energia. Essas famílias contam que não conseguem mais pescar para sua subsistência, não têm acesso à água potável, não têm recebido as compensações devidas pela Norte Energia e que o sistema de transposição montado no Rio Xingu, próximo à aldeia, inviabilizou a navegação com as tradicionais embarcações indígenas, colocando em risco a segurança da comunidade.
Ainda segundo a ONG, o protesto também reúne índios da etnia Juruna da Aldeia Muratu, localizada na Terra Indígena Paquiçamba. A Norte Energia diz ter chegado a um acordo ontem (20) com lideranças dessa comundade, mas não forneceu detalhes sobre o assunto. Já os ribeirinhos e colonos que vivem próximo às obras da futura usina cobram, de acordo com a Xingu Vivo, uma definição sobre a situação de suas terras e o fornecimento de energia elétrica.
Procurada pela Agência Brasil, a Norte Energia informou estar aberta ao diálogo, mas disse que vai recorrer a todas as medidas e instrumentos legais cabíveis para garantir a continuidade do trabalho e a desocupação da área.
Edição: Juliana Andrade
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