Inclusão ganha força a cada ano no carnaval de rua do Rio de Janeiro

11/02/2013 - 17h29

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Inclusão é a palavra que ganha força a cada ano entre as organizações carnavalescas do país. A opinião é do coordenador do MBA em Gestão e Produção Cultural da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro (FGV Rio), Claudio D'Ipolitto. Em entrevista à Agência Brasil ele disse que a inclusão se traduz na capacitação e formação das pessoas que desempenhem diversas atividades no carnaval.

“Há um processo de profissionalização dos blocos de carnaval, por exemplo”, destacou. Para ele, o trabalho social se configura com a preparação das pessoas para atuar no carnaval e depois continuar atendendo o setor cultural. “Há coisas acontecendo, inclusive, no entorno das escolas de samba”, disse.

O músico Léo Morel, professor e pesquisador do grupo de inovação na produção cultural do MBA em Gestão e Produção Cultural da FGV-Rio, disse que a cidade está vivendo um momento de grande efervescência também social, que tem que ver não somente com a proximidade da Copa do Mundo, em 2014 e das Olimpíadas, em 2016, mas com a descoberta da vocação da cidade para o incentivo profissional.

Morel lembrou que desde o fim dos anos 1990 o carnaval de rua “virou uma indústria”, que atrai para o Rio de Janeiro uma quantidade expressiva de turistas nacionais e estrangeiros a cada ano. Segundo ele, essa movimentação envolve diversos profissionais.

“Muitos blocos se profissionalizaram. O grande exemplo disso é o Monobloco”, que surgiu em 2000 como um projeto de ensino de instrumentos de percussão, criado pelo grupo musical Pedro Luís e a Parede. [A profissionalização começou] a partir do lançamento de CD no mercado fonográfico.

“E há profissionais trabalhando direta e indiretamente ao redor dele”, disse Morel, ao lembrar que quando arrasta 500 mil pessoas no carnaval, o desfile do Monobloco envolve também o trabalho de policiais, bombeiros, homens que cuidam da segurança, o que significa geração de emprego em seu entorno. “É aquela pessoa que está vendendo cerveja, vendendo chapeuzinho, adereços de fantasias. Ou seja, criou-se um mercado que até existia no início dos anos 2000, mas era bem menor em comparação ao que é hoje”.

Quanto à da inclusão social, Léo Morel ressaltou a característica de gratuidade que o carnaval de rua oferece para o folião que quer curtir a festa. Não há necessidade de comprar abadás para assegurar o ingresso, como ocorre em Salvador, por exemplo. “Aqui, a coisa é democrática. Isso, de certa forma, é uma inclusão social. Você está permitindo o fácil acesso das pessoas a essa manifestação cultural, que é o nosso carnaval”.

Um movimento peculiar que o carnaval de rua gerou é que muitas pessoas não querem se limitar a apreciar a festa, mas demonstram querer participar de forma ativa, tocando nos blocos, por exemplo. “Elas querem aprender a tocar os instrumentos”. Isso levou muitos blocos a montar oficinas de percussão espalhadas por toda a cidade.

As oficinas reúnem pessoas de diferentes classes sociais, profissões e faixas etárias. “Pessoas que nunca iriam se relacionar se não fosse em um ambiente desses, pelo amor à batucada. Você vê nessas oficinas, muitas vezes, os filhos chamando os pais e vice-versa. Há crianças desde 7 anos até pessoas [idosas]. É uma inclusão social baseada no acesso”.


As oficinas de percussão são também exemplo de negócios gerados a partir do carnaval. Blocos do Rio de Janeiro, como o Quizomba e o Bangalafumenga, montaram oficinas de percussão em São Paulo. “Isso é uma coisa nova. Não existia há dez anos”.

O lançamento de CDs e DVDs por grandes gravadoras aumentou a demanda por profissionais: agentes, produtores, empresários, técnicos de som, de iluminação. Para o pesquisador, o ápice do carnaval ainda não foi alcançado no Rio de Janeiro. “Está em construção”.

Segundo Morel, o desfile das escolas de samba na Marquês de Sapucaí é espetáculo que vem crescendo, trazendo a cada ano mais inovação tecnológica. “A [escola de samba] Mangueira vai vir este ano com duas baterias, totalizando 500 [músicos]”.

Para Morel, o carnaval de rua o processo evolui mais lentamente. “Acho que a gente pode transformar isso em uma indústria mais consolidada, geraando emprego e riqueza para a cidade, o estado e, consequentemente, o país”.

Edição: Tereza Barbosa

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