Mariana Tokarnia
Enviada Especial
Olinda (PE) – A União Nacional dos Estudantes (Une) encerrou hoje (26) as atividades da 8ª Bienal de Arte e Cultura de forma típica, com um bloco de rua. O Seu Cuca é Nóis percorreu as ladeiras da cidade chamando quem passasse para a cantoria, mas também para as lutas políticas. Os estudantes pedem que 2% do Orçamento do governo federal sejam destinados à cultura, além de maior integração entre cultura e educação. O reconhecimento do forró como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade é outra reivindicação. A passeata ocorre ao fim de todas as bienais e é chamada de Culturata.
O bloco do Seu Cuca foi reforçado pelo Bloco das Conchitas, formado por cerca de 100 mulheres que tocam ritmos regionais como o maracatu. Elas aproveitaram o evento para lançar o tema que defenderão no carnaval deste ano: Mulheres do Mundo. “Somos mulheres jovens, que encontramos no espaço a defesa da cultura e nos idenficamos”. Somaram-se ainda à Culturata a Orquestra de Frevo da cidade e os tradicionais bonecos de Olinda, que percorrem as ladeiras no carnaval.
O presidente da UNE, Daniel Iliescu, disse estar satisfeiro com os eventos que a entidade organizou na cidade - a Bienal e o 14º Conselho Nacional de Entidades de Base (Coneb), que ocorreu de 18 a 21 de janeiro. “Conseguimos firmar vários acordos e tivemos várias conquistas. O momento da Culturata agora é para refirmar tudo isso e defender as nossas bandeiras. É uma passeata contemporânea e atrativa”, acrescentou.
Além da luta política, quem foi a Pernambuco pela primeira vez estava emocionado com as atrações culturais. O estudante paraense Hugo Tomkewytz pode não ter participado de todos os debates, mas se emocionou com a música, com a paisagem e com a produção cultural da cidade. Segundo a organização, esse era também um dos objetivos do evento. “Agora volto para Belém, são três dias de estrada, mas que vão valer muito a pena. Aprendi muito, tanto politicamente quanto culturalmente”., disse ele.
Os estudantes querem a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 150/2003, que vincula à cultura 2% do Orçamento da União, 1,5% do Orçamento dos estados e do Distrito Federal (DF) e 1% do Orçamento dos municípios. A aprovação e regulação da PEC é defendida desde a 1ª Conferência Nacional de Cultura, em 2005.
Os estudantes pedem também a aprovação do Projeto de Lei nº 757, de 2011, em tramitação no Congresso Nacional, que prevê a institucionalização do Programa Nacional de Cultura, Educação e Cidadania - Cultura Viva [que surgiu em 2004 a fim de estabelecer convênios com governos estaduais, municipais e o DF para promover a cultura no território nacional]. A lei torna o programa uma política de Estado e estabelece que o financiamento constará no Fundo Nacional de Cultura. A medida, de acordo com os estudantes, permitirá o mapeamento e o fortalecimento de iniciativas locais e populares.
A UNE espera, com isso, fortalecer uma aliança entre cultura e educação. Uma das formas de alcançar esse objetivo seria por meio dos circuitos universitários de Cultura e Arte (Cucas), núcleos formados por estudantes, artistas, produtores e outros agentes culturais em todo o país. Eles querem que os Cucas - que deram origem ao nome do bloco -, reconhecidos como pontos de cultura, se tornem projetos de extensão das universidades, aliando cultura e conhecimento.
O reconhecimento do forró como Patrimônio Imaterial da Humanidade foi debatido ao longo de todo o evento. Os estudantes conseguiram a colaboração do Ministério da Cultura para a tramitação da proposta na Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que concede o título.
A 8ª Bienal de Arte e Cultura da UNE foi realizada em Olinda de 22 a 26 de janeiro. O evento reuniu cerca de 10 mil estudantes em apresentações de teatro, música, seminários de esportes, debates culturais, além de mostras científicas e de projetos de extensão. O tema desta edição foi A Volta da Asa Branca, uma homenagem ao sanfoneiro Luiz Gonzaga, cujo centenário foi comemorado em 2012. As atividades foram gratuitas e abertas à comunidade.
Edição: Graça Adjuto
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