Daniel Lima e Wellton Máximo
Repórteres da Agência Brasil
Brasília – As reduções de juros promovidas pelos bancos ao longo deste ano estão contribuindo para que os empresários busquem lucro no investimento produtivo, não na especulação financeira, disse hoje (19) o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Na avaliação do ministro, a diminuição do custo financeiro favorece o surgimento do “capitalismo verdadeiro” no Brasil.
“Agora [é] que o capitalismo verdadeiro está se implantando no Brasil. Quero ver o empresário ganhar dinheiro suando a camisa, com ousadia e espírito animal”, declarou Mantega em café da manhã de quase duas horas com jornalistas. Segundo ele, a queda dos juros permite que os empresários que querem obter lucros assumam riscos ao investir na produção.
De acordo com o ministro, o país está se adaptando a uma nova realidade após um longo período de juros altos, que garantem retornos fáceis para quem aplica no mercado financeiro. “O povo brasileiro estava viciado em juros. Agora estamos atravessando um período de desintoxicação. No primeiro momento, isso causa problema para todo mundo. Os aplicadores precisam encontrar novos instrumentos”, disse.
Em relação aos bancos, o ministro ressaltou que a redução dos juros estimula o surgimento de novos modelos de aplicação, como títulos privados de longo prazo. Por meio desses instrumentos, os investidores emprestam dinheiro a empresas, que investem os recursos e reembolsam os aplicadores com juros que representam o risco do empreendimento.
“Em vez de ficar com o CDB [Certificado de Depósitos Bancários], que representa um jogo entre os bancos, os investidores estão buscando novos instrumentos, como as debêntures, as letras de crédito imobiliário e as letras de crédito agrícola, que financiam o setor produtivo”, destacou o ministro.
Segundo Mantega, apesar de o ano ter sido de crescimento econômico baixo, o governo promoveu mudanças estruturais na economia, reduzindo os juros, os impostos e mudando o câmbio para níveis mais aceitáveis que não prejudicam os exportadores. “Foi um ano difícil, mas com grandes realizações e reformas estruturais, que não são imediatas nem trazem felicidade imediata”, declarou.
Para ele, os juros altos provocam distorções em outros setores da economia, com reflexos sobre a carga tributária e o real valorizado. “Existem distorções gêmeas. A carga tributária se dá, em parte, para pagar a dívida pública que é corrigida pelos juros altos. Ambos penalizam a produção. Da mesma forma, os juros elevados se refletem no câmbio, com a valorização do real”, explicou.
Na avaliação do ministro, as medidas para estimular o consumo foram necessárias para reativar a economia e preservar os empregos, mas foram conjugadas com ações de estímulo ao investimento. “O investimento é um compromisso com o futuro. Essa confiança está se implantando e vai aumentar. Fizemos o diabo para aumentar os investimentos. O que nós fizemos para estimular os investimentos é dez vezes mais do que gastamos para estimular o consumo”, destacou.
Mantega acrescentou ainda que o país está encerrando um ano de crise próximo do pleno emprego e com o consumo em alta. “O grande sucesso de uma política é quando você consegue gerar emprego. A população está feliz e viajando. [Os brasileiros] nunca viajaram tanto. Está faltando mão de obra. É uma grande satisfação para mim, uma proeza terminar o ano com emprego, em um ano de baixo crescimento”, disse.
Edição: Juliana Andrade
Mantega estima em 4% crescimento da economia no ano que vem
Mantega diz que país passou por reformas econômicas consideradas "impensáveis" no passado
Novas reduções permanentes de impostos somarão R$ 40 bilhões no próximo ano, diz Mantega
Mantega admite reajuste da gasolina para o consumidor em 2013