Cristiane Ribeiro
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Os 583 dias em que a Força de Pacificação, composta pelo Exército e pelas polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro, ocupou os complexos do Alemão e da Penha, na zona norte da cidade, estão contados em um livro escrito pelo chefe da Comunicação Social do Comando Militar do Leste, coronel Carlos Alberto Lima.
A obra Os 583 Dias da Pacificação do Complexo da Penha e do Alemão foi lançada hoje (28), dia em que se completam dois anos da ocupação militar nas favelas. Com a saída da Força de Pacificação, em junho deste ano, as comunidades passaram a ser patrulhadas pela Polícia Militar.
Nesta quarta-feira, as favelas amanheceram com o policiamento reforçado por causa de um confronto entre policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) e traficantes, que atacaram a sede da UPP em represália à morte, no dia anterior, de um homem que faria parte da quadrilha. Na troca de tiros um policial ficou ferido e um adolescente foi apreendido.
Coronel Lima reconhece que episódios como esse mostram que ainda há a presença do tráfico de drogas nas favelas, mas são traficantes de segundo e terceiro escalões. “O tráfico não terminou, mas os principais [traficantes] fugiram e foram capturados. Não tem mais exibição de armamento, mas o tráfico ainda existe”, disse.
Para escrever o livro, o coronel precisou de autorização do comando do Exército e, com o aval, teve acesso a documentos que serviram como base para os registros dos quase dois anos em que cerca de 1.700 militares ocuparam, dia e noite, pontos estratégicos das favelas. Foram 126 mil patrulhas. A experiência foi a primeira no Brasil e, segundo ele, o objetivo de garantir o direito de ir e vir dos cidadãos, até então reféns de traficantes de drogas, foi cumprido.
No livro, Lima lembra que os momentos mais difíceis foram nos primeiros dias da ocupação, quando a mídia e a sociedade não demonstravam confiança na capacidade do Exército de enfrentar o desafio de garantir a ordem urbana.
“Primeiro a Marinha ocupou a Vila Cruzeiro, na Penha, e três dias depois decidimos ocupar também o Complexo do Alemão. Só que não houve o reconhecimento que o Exército e as Forças Amadas fazem [normalmente] para um tipo de missão. Em 11 horas, o Exército tinha ocupado o perímetro. As decisões foram muito rápidas, pois a avaliação era que precisávamos avançar para conter a violência”.
No livro, o coronel Lima diz que a maioria dos militares que atuaram na Força de Pacificação estiveram no Haiti e haviam enfrentado situações de conflitos semelhantes às do Complexo do Alemão.”Nenhum deles desistiu da missão, que foi vista por todo o mundo. Recebemos visitas de militares das Forças Armadas de países da América Latina, Europa e Estados Unidos, todos interessados em ver como o Exército brasileiro estava trabalhando na ocupação”.
A Vila Cruzeiro foi ocupada por fuzileiros navais, com apoio de carros blindados no dia 25 de novembro de 2010. A ação teve o objetivo de acabar com o domínio de traficantes nas favelas. No mesmo dia, o helicóptero da TV Globo flagrou dezenas de homens fugindo pela mata em direção às favelas do Complexo do Alemão. Três dias depois, as comunidades foram ocupadas pelo Exército em uma megaoperação, sem troca de tiros. Poucas prisões foram realizadas, porque os traficantes fugiram das favelas.
Com a ocupação, a bandeira do Brasil foi hasteada no alto do Morro do Alemão. Os governos do estado e municipal entraram nas comunidades oferecendo serviços social e de saúde aos moradores.
Edição: Fábio Massalli