Nielmar de Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Os programas de transferência de renda desenvolvidos pelo governo federal e, em menor intensidade, o crescimento do agronegócios, estão levando a um crescimento “muito grande” da renda no campo e ao surgimento de uma nova classe média rural. A distribuição de renda no campo também está mais intensa do que nas cidades em função dos programas sociais do governo.
As conclusões estão no livro Superação da Pobreza e a Nova Classe Média do Campo, que o pesquisador e presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcelo Neri, lançou hoje (22), na Feira Brasil Rural Contemporâneo – a 8ª Feira Nacional da Agricultura Familiar e Reforma Agrária, que ocorre até domingo (25), na Marina da Glória, zona sul do Rio de Janeiro.
Os dados constantes da publicação - que será lançada oficialmente durante a 5ª Reunião de Intercâmbio do Iica no Brasil (Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura), no dia 28, em Brasília – indicam que, apesar do aumento da renda na área rural, a taxa de ocupação no campo, embora seja maior do que no resto do país, apresenta uma queda nos últimos anos, mas que essa queda se deu em troca de empregos de melhor qualidade.
“Essa revolução no campo encerra uma série de mudanças e de surpresas. Uma série de paradoxos – como o de que apesar do agronegócios, o que mais cresce e responde pela melhora da qualidade de vida no campo é a renda decorrente de transferências sociais como o Bolsa Família, a Aposentadoria Rural, entre outras muitas políticas de transferência de renda desenvolvidos pelo governo”, disse Neri, em entrevista à Agência Brasil. Para ele, isto justifica o fato de que, apesar de se falar muito no agronegócios, a renda no campo nos últimos seis anos cresceu em torno de 36% a mais do que o próprio PIB agrícola.
“Isso justifica o fato de que, no campo, principalmente no que toca à questão da desigualdade, a renda das pessoas com pouca educação [nível de escolaridade] vem crescendo muito mais do que o das pessoas com mais educação, o que é uma situação atípica no mundo contemporâneo - seja nos países emergentes, seja nos já desenvolvidos”, acrescenta.
Neri disse que o livro demonstra que pela primeira vez, nos últimos cerca de 60 anos, houve na última década uma estabilidade no exôdo rural, e que isto ocorreu exatamente porque a distribuição de renda no campo vem se dando de forma “muito mais intensa” do que nas grandes cidades.
“Esta foi a primeira década [2000-2010] em muitas em que não houve queda na proporção de pessoas no campo. A década começou e terminou com os mesmos 15% da população brasileira residindo no campo. Houve uma estabilização depois das quedas abruptas ocorridas nas últimas décadas. Em 1950, 70% da população brasileira moravam no campo”, disse.
Segundo o presidente do Ipea, esta estabilização é mais um indicativo das mudanças pelas quais passa o país, principalmente na área rural, onde se tem um crescimento muito forte do agronegócios. “No livro constata-se que, apesar da expansão do agronegócios, o crescimento muito grande da renda no campo se deu muito mais em decorrência dos programas de transferência de renda do que pelo aumento do emprego e do trabalho”.
Na avaliação do presidente do Ipea, o livro “procura dar um mergulho sobre as causas dessa ascensão, dessa mudança no campo. O que o livro mostra, é que a grande revolução no campo, do ponto de vista social, dá-se muito mais por interveniência do Estado do que propriamente pelas forças do mercado”, disse.
O presidente do Ipea diz que o caráter da distribuição de renda na área rural é inclusivo porque o crescimento da renda é maior na base e, principalmente, no meio da população, o que remete exatamente à nova classe média de que o livro trata. “Não foram os 20% mais pobres que tiveram as maiores taxas de crescimento, mas os que estão situados entre os 30% e os 80% mais pobres. Foram esses que obtiveram o maior ganho de renda nas áreas rurais. É o que se pode dizer na gíria: a área rural está bombando.”
Edição: Fábio Massalli