Gilberto Costa
Correspondente da EBC
Lisboa – Na próxima segunda-feira (12), a chanceler alemã, Angela Merkel, participará de um encontro com empresários portugueses e alemães no Centro Cultural de Belém, em Lisboa (próximo ao Mosteiro dos Jerônimos Torre de Belém, muito visitado por turistas brasileiros). O local deverá estar cercado por forte aparato policial e poucas pessoas terão acesso ao evento. Até mesmo a imprensa credenciada só poderá acompanhar parte dos encontros.
A razão do excesso de segurança está na própria presença de Angela Merkel, tratada por sindicatos e movimentos sociais como a principal responsável pela dura política de reajuste que os países do sul da Europa, como Grécia e Portugal, tiveram que adotar desde que a crise econômica internacional desestabilizou a zona do euro.
O governo de Portugal, que recentemente aprovou um orçamento com aumento de impostos para pessoas físicas, quer ainda cortar 4 milhões de euros dos gastos do Estado em 2013 e 2014 – o que poderá significar diminuição dos investimentos em saúde, em educação e despesas com a seguridade social (em momento que cresce o desemprego).
Para marcar o desagrado com a presença da chanceler alemã, sindicatos e movimentos sociais organizam, por meio das redes sociais, protestos em vários pontos de Lisboa. Os organizadores prometem buzinaços, concentrações no aeroporto e em frente à Assembleia da República e manifestantes vestidos de preto. Os protestos serão preparativos para a greve geral marcada para a próxima quarta-feira (14) e que também atingirá a Grécia e a Espanha.
Apesar dos protestos, a visita de Angela Merkel é importante para o país. A Alemanha é o principal contribuinte no orçamento da comunidade europeia, com participação de 27% no Fundo de Estabilização Econômico-Financeira da Europa, e o principal avalista dos 78 bilhões de euros que Portugal recebeu quando estava sob choque especulativo. A reunião poderá ser decisiva para que os portugueses adotem medidas para atração de investimentos
A dependência da economia lusitana em relação à economia alemã tende a se agravar. Segundo relatório divulgado esta semana pela Comissão Europeia, o endividamento externo de Portugal chega a 183 bilhões de euros (quase duas vezes e meia a mais do que toda riqueza produzida por Portugal anualmente).
O endividamento atingiu esse volume porque os títulos da dívida que Portugal precisa pagar valorizaram-se recentemente com as dificuldades do país em reduzir seu déficit externo (problema estrutural para economia que historicamente importa mais do que exporta, inclusive da Alemanha) e com a impossibilidade de voltar a crescer economicamente (objetivo dificultado pelas próprias medidas de austeridade que enxugaram investimentos que estimulam a economia).
Durante as pouco mais de cinco horas que passar em Portugal, Angela Merkel também visitará o presidente Cavaco Silva e almoçará com o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho. A chanceler alemã não se reunirá com os líderes da oposição em Portugal, que responsabilizam Angela Merkel pelo empobrecimento de Portugal.
O governo, sustentado por uma coligação do Partido Social Democrata (PSD) e do Cento Democrático Social/ Partido Popular (CDS/PP), no entanto, busca apoio da oposição (em especial no Partido Socialista) para os cortes que pretende fazer nos gastos sociais e que Passos Coelho chamou de refundação do Estado quando defendeu a aprovação do orçamento.
Edição: Lílian Beraldo