Da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Representantes do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ) e da Defensoria Pública da União no Rio de Janeiro (DPU/RJ) fizeram, na manhã de hoje (20), uma vistoria no prédio do antigo Museu do Índio, na Tijuca, zona norte da cidade, para avaliar as condições estruturais do imóvel. A construção está ameaçada de demolição para obras de urbanização.
Por causa das obras de reforma do Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã, o prédio, que pertence à Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), órgão vinculado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, vem sendo negociado com o governo do estado do Rio, que pretende demolir o imóvel para que o terreno seja transformado em área de estacionamento e dispersão de público do estádio.
Apesar de centenário, o prédio não é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Depois que o museu foi transferido para outra sede, a construção foi ocupada e preservada por índios. Atualmente, cerca de 20 índios de diversas etnias se abrigam no local. Desde agosto, com o anúncio das negociações para transferência do prédio ao governo estadual, a DPU/RJ se movimenta para tentar impedir a demolição.
Para o defensor público federal André Ordacgy, o imóvel, erguido há cerca de 150 anos, deve ser preservado e no local construída uma grande área cultural indígena. Ordacgy, que desde 2010 busca nos órgãos de preservação o tombamento do prédio, afirmou que estudos realizados no local apontam que é possível fazer a restauração.
“Estamos reunidos aqui lutando em primeiro lugar pela preservação do prédio. É possível preservar. Em termos culturais indígenas, eles [os índios] têm uma grande associação a esse local. Então, por conta disso, eles [os índios] merecem uma atenção”, explicou. Em 2006, o prédio abandonado foi ocupado por cerca de 20 índios das etnias Guajajara, Apurinã, Fulni-ô, Kaingang e Guarani e passou a ser chamado de Aldeia Maracanã.
Atualmente, a defensoria está tentando impedir a demolição do prédio histórico por meio de uma notificação extrajudicial. O defensor público federal explicou que, caso os órgãos responsáveis pela manutenção do local não acatem o pedido, será proposta ação na Justiça Federal com pedido de liminar para o imóvel não seja derrubado.
O presidente do Crea-RJ, Agostinho Guerreiro, que acompanhou a vistoria, defende que o local seja preservado e transformado em uma área cultural, independente das obras que estão sendo feitas no entorno. “Eu acho que tudo é compatível, desde que exista o espírito do reconhecimento da história do Rio. O problema é que a história do Rio vem sendo sistematicamente destruída”, ressaltou.
Agostinho Guerreiro lembrou que, em virtude das grandes construções imobiliárias nas grandes capitais, prédios antigos têm sido demolidos para dar espaço a imóveis novos e modernos. “Aqui é uma área importante. Então, se vai ter um estacionamento ou um shopping, isso é uma outra discussão. Existem mecanismos da engenharia, da arquitetura, dos historiadores, de integrar tudo isso e preservar um prédio histórico como esse”.
A índia Twry Pataxó, 41 anos, moradora da comunidade da Maré, zona norte da cidade, que visita com frequência o antigo Museu do Índio, disse se sentir “agredida” com a possível demolição. “Talvez o Brasil seja o único país que não tenha interesse em preservar a sua memória. Nós fazemos parte dessa história. Isto aqui não é apenas para preservar a cultura indígena. Isto aqui é para preservar a cultura do Brasil”, enfatizou.
O imóvel já foi sede do extinto Serviço de Proteção ao Índio (SPI), criado pelo marechal Rondon, que deu origem à Fundação Nacional do Índio (Funai). O local também serviu de sede ao primeiro Museu do Índio, fundado por Darcy Ribeiro, instituição que foi transferida mais tarde para o bairro de Botafogo, zona sul do Rio.
Procurado, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) informou por meio de sua assessoria que, por se tratar de um prédio não tombado, o órgão não pode se pronunciar sobre o assunto. Também procurado pela Agência Brasil, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento não se pronunciou até a publicação da matéria.
Edição: Davi Oliveira