Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O peixe assado na folha de bananeira é preparado no fogão à lenha. A farinha de mandioca já está posta sobre a mesa, rodeada por dez índios. Em uma aldeia no meio da cidade do Rio de Janeiro, o almoço é certo. O que preocupa é o destino do grupo, que vive na área do antigo Museu do Índio. Localizado ao lado do Estádio do Maracanã, palavra que significa arara na língua tupi-guarani, a área pode ser desocupada para obras da Copa do Mundo de 2014.
A intenção dos índios é levar o tema para discussões paralelas com a sociedade na Rio+20.
De acordo com as lideranças no local, há informações controversas sobre o destino do antigo museu, que fica na Tijuca, na zona norte. "Não queremos tumultuar, mas saber das autoridades, diretamente, qual é o destino disso aqui. Falaram que ia ser passarela, depois, estacionamento, depois shopping esportivo. Não sabemos de nada, estamos apreensivos", disse o representante da Aldeia Maracanã, como foi batizada a ocupação, Carlos Tukano, original do Amazonas.
Em avançado estágio de degradação, o imóvel centenário é simbólico. Foi sede do Serviço de Proteção ao Índio, do marechal Rondon e abrigou o primeiro Museu do Índio, criado por Darcy Ribeiro, posteriormente, transferido para o bairro de Botafogo, na zona sul, onde funciona atualmente. Como não foi tombado por nenhum órgão, o prédio, de dois andares, está em ruínas.
O local foi ocupado pelos índios em 2006. Desde então, os cerca de 20 moradores, das etnias Guajajara, Apurinã, Fulni-ô, Kaingang e Guarani se revezam entre suas aldeias natais e a Maracanã. Reivindicam a criação de um polo de cultura no local para exibir tradições, comercializar artesanato e hospedagem, de acordo com o índio Garapirá Pataxó.
"Aquele museu [do Índio, de Botafogo] não representa a gente. Qualquer pessoa que vá lá percebe que só tem uma arte índia com um preço absurdo, para os gringos. Você não vai nem encontrar indígenas para contar sua história", criticou Garapirá, sobre a instituição administrada pela Fundação Nacional do Índio (Funai), que não comentou nenhuma das reivindicações."
Responsável pelas intervenções urbanísticas entorno do estádio, a Secretaria Municipal de Obras, disse que a demolição do casarão e a desocupação não estão entre as reformas previstas para a Copa do mundo. Porém, o governo do estado, admite que está comprando área, que pertence ao governo federal. A Casa Civil estadual, não confirma, no entanto, o destino do terreno.
Sobrevivendo da venda de artesanato em feiras e doações, sem apoio da Funai ou da prefeitura, os índios construíram no terreno ao redor do prédio, dez casas com paredes de barro, já que o casarão ameaça desabar, além de uma cozinha comunitária. Há também uma oca central, onde contam histórias para crianças e expõe seus produtos em uma feira mensal.
Procuradas para comentar a ocupação, as secretarias municipais de Assistência Social e de Cultura, assim como a Defensoria Pública informaram que não desenvolvem nenhuma ação no local.
Edição: Rivadavia Severo