Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Dados do Censo 2010 divulgados hoje (10) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que mais de 30 mil pessoas declaradas não índias habitam 505 terras indígenas que foram reconhecidas pelo governo até 31 de dezembro de 2010. Ao todo, nessas áreas vivem 517 mil índios de 250 etnias.
Em números absolutos, a maioria dos não índios está concentrada na Região Nordeste. Somente em Pernambuco, 18,6 mil pessoas não índias ocupam as terras da etnia Fulni-Ô, de 23,8 mil indivíduos. Segundo a organização não governamental Instituto Socioambiental (ISA), que disponibiliza uma enciclopédia sobre os índios no país, a área de 12 quilômetros quadrados da aldeia da etnia Fulni-Ô circunda a cidade de Águas Belas, o que explica o elevado número de não índios no local.
Estudioso dos povos indígenas, o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, João Pacheco, explica que essa etnia se originou de uma missão religiosa instalada no local para proteger índios de serem dizimados no século 18. Mais tarde, do aldeamento foi aproximando pecuaristas e agricultores e até não índios, que se casaram com índios.
"A Igreja deu origem ao povoado, a tudo. Isso quer dizer que eles são o pilar do município. A terra indígena lá é um bairro da cidade e, por isso, as pessoas entram e saem", afirmou, ao destacar que os Fulni-Ô mantém tradições como a língua e um ritual anual no qual a população sai para a zona rural, no chamado Uricuri.
Em Mato Grosso, das 46,5 mil pessoas vivendo em terras indígenas, 2,1 mil também não se declararam indígenas e podem ser tanto agricultores como pessoas que trabalham nas aldeias, na avaliação da pesquisadora do IBGE, Nilza Pereira, responsável pela pesquisa.
No estado, o número mais alto foi verificado na Terra Indígena (TI) Maraiwatsede, onde 1,8 mil índios convivem com 407 não índios, em 165 quilômetros quadrados (km²), no leste de Mato Grosso, segundo o censo.
Também chama a atenção na pesquisa do IBGE a quantidade de pessoas que não se consideravam índios na TI São Domingos do Jacapari e Estação, de 135 km², no Amazonas. Lá, mais metade dos 2,12 mil habitantes não são índios. Os povos originais na área somam 623.
A presidenta da Fundação Nacional do Índio (Funai), Maria Azevedo, concorda que várias situações podem explicar a presença de não índios nas terras indígenas e reforça que cada situação deve ser analisada caso a caso. "Agora [de posse dos dados] vamos ver qual o problema em cada área", declarou.
Para fazer o levantamento, o IBGE considerou dados cartográficos da Fundação Nacional do Índio (Funai), com 505 terras indígenas reconhecidas pelo governo, somando 106,7 milhões de hectares.
Edição: Juliana Andrade//Matéria ampliada às 17h09