Carolina Goncalves
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A estreia da categoria longa-metragem documentário, inaugurada nesta 45ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, se propõe a trazer uma visão pouco comum para esse tipo de produção.
Com Um Filme para Dirceu, a roteirista, dramaturga e documentarista do Paraná, Ana Johann, construiu um longa que ela define como “autoparticipativo”, em que o personagem documentado e a equipe de filmagem interagem, revelando a convivência ao longo dos quatro anos em que o filme foi produzido e filmado.
Um Filme para Dirceu relata a história de drama, superação e do amor pela música vivido pelo gaiteiro Dirceu Cieslinski de São Bento do Sul (Santa Catarina), que aos 17 anos ficou paraplégico em função de uma infecção na coluna. Dirceu, como relata a diretora, sempre manteve o otimismo e o bom humor que estão retratados nos 80 minutos do documentário.
“Ele brinca, no filme mesmo, que o personagem tem que ter três romances, que não pode ter briga. Uma hora ele está encenando, outra hora ele vira para a câmera e fala ‘este é o filme que eu queria fazer’. Eu vou construindo essa narrativa e por isso o filme é para Dirceu”, descreveu a diretora.
Além do otimismo, o gaiteiro, responsável pelas gargalhadas da equipe de filmagem e de outros personagens que compõe o filme, mostra, no decorrer da trama, como superou a paralisação dos movimentos com a paixão pela música. “O sonho dele era viver da música e gravar um filme”, disse Ana Johann ao revelar que se apaixonou pelo projeto ao longo da produção.
“Eu costumo dizer que o filme tem várias subtramas. É um híbrido de ficção e documentário”, explicou. “São vários olhares: é o filme que o Dirceu gostaria, é o filme que eu fiz e é o filme que a vida propôs. Na medida em que você escolhe acompanhar um personagem durante três anos, a vida dele se sobressai. A gente não tem como mandar no tempo. O tempo é soberano”.
Ana Johann, que acompanhou a vida de Dirceu desde que o gaiteiro e ex-metalúrgico a procurou para saber como e quanto custaria uma produção cinematográfica sobre sua vida, acredita que o tom hilário e contagiante do personagem vai contagiar o público. “É um filme muito para cima, muito bem humorado. O Dirceu é um cara que vai para o hospital [continuar o tratamento] dando risada e fazendo piada da situação”, descreve.
Ainda assim a diretora e o personagem confessam o nervosismo diante da primeira apresentação no Festival de Brasília. “Estou ansiosa para saber como será a reação das pessoas, porque a plateia daqui é mais exigente e sincera, mas isto é bom porque você pode avaliar realmente o trabalho”, disse, acrescentando que Dirceu também está um pouco nervoso. “Eu já avisei para ele que preciso que ele esteja bem para hoje à noite”, declarou entre risos.
A primeira exibição do primeiro longa de Ana Johann será realizada hoje, a partir das 19 horas, na Sala Villa Lobos do Teatro Nacional.
Pela categoria, a produção paranaense concorre a um prêmio de R$ 100 mil, mas ainda pode disputar a premiação de Júri Popular e os prêmios de melhor diretor, melhor montagem e melhor som, entre outros.
Um Filme para Dirceu também foi selecionado para concorrer à Mostra Internacional de Documentário do México e para um outro festival que a diretora disse que ainda não pode revelar.
Os filmes das mostras competitivas serão exibidos simultaneamente no Teatro Newton Rossi, no Sesc de Ceilândia, no Teatro de Sobradinho, no Teatro Paulo Autran, no Sesc Taguatinga e no Teatro do Sesc do Gama. No dia seguinte, a programação poderá ser conferida no cinema do Centro Cultural Banco do Brasil.
Edição: Fábio Massalli
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