Carolina Gonçalves e Luciana Lima
Repórteres da Agência Brasil
Brasília – Apesar de ter conquistado espaço entre as principais mostras de cinema do país, o Festival de Brasília ainda não conseguiu alavancar a indústria local. Os incentivos e apoios às produções brasilienses ainda oscilam na agenda prioritária de investimentos do governo local.
“Temos que produzir uma agenda que percorra o ano inteiro, e não apenas os dez dias do festival”, alerta o secretário de Cultura do Distrito Federal, Hamilton Pereira. A solução passa por uma definição clara do perfil de desenvolvimento que a cidade pretende seguir. Com isso, seria possível definir vocações econômicas, como a cultura, e posicioná-las no topo de prioridades públicas, explicou.
“Brasília não é uma cidade vocacionada para indústria automobilística, por exemplo. É uma cidade com perfil administrativo e também vocacionada, desde o nascimento, para as atividades culturais. Investimento em áreas como esta passa por ima definição clara do modelo de desenvolvimento, e a cidade precisa traduzir isso em seu orçamento e investimentos a curto e médio prazos”, disse ele.
Para Pereira, o festival é apenas um “ponto de chegada”. A “partida” estaria nas condições para o desenvolvimento da atividade cinematográfica na cidade. No entanto, o cenário atual do setor não revela qualquer sinal de que as políticas estejam caminhando neste sentido.
A trajetória do Polo de Cinema e Vídeo de Sobradinho é um dos principais reflexos da instabilidade de estímulos ao setor. Construído em 1993 para estimular a produção cinematográfica no Distrito Federal, o polo, que chegou a receber recursos para cursos e oficinas e serviu como set de filmagem em 2010, por exemplo, está novamente abandonado.
“Temos que ter um polo de cinema como ponto de partida para ter cadeia produtiva audiovisual na cidade. Aquilo [reforma do polo] não é uma coisa de alto custo”, ressaltou o secretário, que estima os gastos iniciais em R$ 250 mil. “Quero dinheiro para consertar o polo em Sobradinho. A situação está terrível e tenho medo de o teto cair. Estamos atrás de recursos para obras de reparo. Aquilo é um espaço de formação do setor”, disse Pereira.
De acordo com ele, Pernambuco tem investido fortemente na produção cinematográfica do estado, e o resultado pode ser sentido na atual edição do Festival de Brasília, onde a produção pernambucana superou em volume de obras os tradicionais eixos produtores: São Paulo e Rio de Janeiro. Entre as 600 obras inscritas, 103 eram produções de Brasília, mas apenas uma foi selecionada para concorrer à mostra competitiva.
A obra do Polo de Cinema de Sobradinho tinha recursos previstos este ano, mas o dinheiro foi realocado para outras áreas. Para agravar a situação, a cidade ainda tem outras prioridades na área cultural, como a reforma do Catetinho, realizada neste ano, e a planejada readequação do espaço do Teatro Nacional, que há 15 anos não passa por melhorias. As obras nos 45 mil metros quadrados do principal teatro da cidade custariam cerca de R$ 80 milhões.
“Estamos dialogando com o governo federal sobre as obras do Teatro Nacional”, disse Pereira. Quanto ao polo de cinema, o secretário descarta o possível interesse da iniciativa privada como solução para o impasse. “O setor privado só passa a ter interesse quando o investimento tem lucro. Estamos em etapa prévia. Precisamos viabilizar investimentos públicos para alavancar a produção antes”.
Hamilton Pereira ainda destacou que, nesta semana, foram publicados mais seis editais do Fundo de Apoio à Cultura no Distrito Federal, com valor total de R$ 24,1 mil. No primeiro semestre, o programa destinou R$ 17,8 mil para apoio aos artistas da região. “Vamos financiar 288 projetos ao longo do próximo ano. Entre eles, seis longas-metragens e 14 curtas-metragens. Além disso, outras linguagens, como teatro e música, estarão contempladas.”
Edição: Nádia Franco